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segunda-feira, 21 de março de 2016

Houve um tempo em que não existia lei? Romanos 2:12 e 5:13 se contradizem?



Paulo escreveu: “Assim, pois, todos os que pecaram sem lei, também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram, mediante lei serão julgados” (Romanos 2:12).

“Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei” (Romanos 5:13).

Ao Deus criar o homem e colocá-lo no Jardim do Éden escreveu a Sua lei no coração humano, sendo desnecessária a lei escrita em tábuas de pedra. Mesmo nas regiões mais atrasadas do mundo as pessoas têm conceitos de justiça, sabendo distinguir o certo do errado. Deus não exige do gentio que tem pouca luz, mas é sincero, mais do que a sua razão possa alcançar. Do outro lado, o homem que tem conhecimento dos Dez Mandamentos, mas não vive de conformidade com a luz que possui, ele não será aceito por Deus. Não é o conhecimento mental e intelectual que nos salva, mas a disposição de viver de acordo com a luz que possuímos e a aceitação de Cristo em nossa vida.

Romanos 5:13 não indica que houve um tempo quando não existia lei, porque a segunda parte do verso declara – “mas o pecado não é levado em conta quando não há lei”. A expressão “até à lei” tem apenas o significado de até que a lei fosse escrita.

Os israelitas no Egito perderam a intuição da lei divina escrita em sua mente e coração, daí a necessidade de Deus apresentá-la por escrito.
O comentário que se segue é de autoria do personagem já muitas vezes citado em nossas pesquisas, Adam Clarke, sobre Romanos 2:12 e 5:13.
Romanos 2:12 – “Eles, a saber, os gentios, que se verificar haverem transgredido contra a mera luz da natureza, ou antes, aquela verdadeira luz que ilumina todo homem que vem ao mundo (João 1:9), não estarão sob a mesma regra que aqueles, os judeus, que além disto desfrutaram de uma extraordinária revelação; mas serão tratados segundo sua dispensação inferior, sob a qual se alinharam: enquanto que aqueles, os judeus, que pecaram contra a lei – a positiva revelação divina a eles concedida, serão julgados por esta lei, e punidos proporcionalmente ao abuso de uma vantagem tão extraordinária”.

Romanos 5:13 – “Como a morte, também o pecado reinou de Adão até Moisés, visto que não houve lei escrita desde Adão até a que foi outorgada a Moisés, a morte que prevalecia não podia ser a infração dessa lei; pois o pecado, para ser punido com a morte temporal, não é imputado onde não há lei, o que mostra que a penalidade do pecado é a morte. Portanto, os homens não estão sujeitos à morte por suas próprias transgressões pessoais, mas pelo pecado de Adão, uma vez que, através da transgressão dele, todos vêm ao mundo com as sementes da morte e corrupção em sua própria natureza, adicionadas a sua depravação moral. Todos são pecaminosos – todos são mortais – e todos devem morrer”.

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 7

quarta-feira, 16 de março de 2016

Um Verso Difícil de Traduzir – Gênesis 4:7 (O Pecado de Caim)


Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

“Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”.

“A mensagem da Bíblia expressa-se em linguagem oriental. No seu modo de viver e pensar, o oriental é diametralmente oposto ao homem do ocidente, fato este que constitui grande barreira à compreensão e interpretação de muitos trechos das Escrituras” (Edith A. Allen).

Há versículos na Bíblia, diante dos quais os tradutores ficam perplexos, porque se sentem incapazes de transmitir com clareza a mensagem neles contida. Um verso que bem ilustra estas dificuldades é Gênesis 4:7. [“Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”]. Os problemas que ele apresenta são de tal vulto, que notáveis comentaristas modernos creem que algum copista tenha modificado o texto hebraico original. O Novo Comentário da Bíblia, editado por Russell P. Schedd, declara: “O hebraico, neste texto, é tremendamente difícil”.

No hebraico está literalmente: Não é que, se ages bem, elevação, e se não ages bem, à tua porta o pecado (feminino) dormindo (masculino) e para ti sua (masculino) cobiça e tu o dominarás.

Em virtude do seu gênero, os pronomes hebraicos para “seu” e “ele” não podem pertencer ao pecado à espreita, mas sim, precisam ser tomados como se referindo a Caim.

A sua tradução para a Septuaginta é obscura e inaceitável, por isso o Comentário Adventista afirma sobre este verso: “Que os tradutores da Septuaginta acharam sua significação obscura no seu tempo é evidente da tradução deturpada que dele fizeram”.

Esta passagem está tão estritamente ligada com o texto precedente, que é necessário volvermos a atenção para ele por um momento, antes de qualquer explicação. Caim e Abel trouxeram uma oferta para Deus segundo suas respectivas ocupações: o primeiro, “do fruto da terra” e o segundo “das primícias do seu rebanho,e da gordura deste”. A atenção dada pelo Senhor à oferta de um e de outro foi distinta, fazendo com que Caim ficasse encolerizado, e como consequência natural apareceu deprimido. O Senhor o advertiu com significativa pergunta: “Por que andas irado? E por que descaiu o teu semblante?”, e acrescenta, no verso em discussão: “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo” (Almeida Revista e Atualizada no Brasil).

A Bíblia de Jerusalém após traduzi-lo assim: “Se estás bem disposto não levantarias a cabeça? Mas se não estiveres bem disposto, não jaz o pecado à porta, um animal acuado te espreita, podes acaso dominá-lo?”, acrescenta a seguinte nota: Tradução aproximativa de um texto corrompido.

Lázaro Ludovico Zamenhof assim o traduziu para o Esperanto: “Sem dúvida se agires bem, serás forte, mas se agires mal, o pecado jazerá à porta, e ele a ti pretenderá, mas governa acima dele”.

Sem nos demorar em longas dissertações exegéticas e textuais, que os especialistas apresentam, cremos que o essencial é o seguinte:

Deus está advertindo Caim do seu procedimento, porque um terrível ato pecaminoso estava próximo, e em linguagem figurada o apresenta como um animal feroz, esperando saltar sobre ele. Em outras palavras o Senhor lhe estava dizendo: Se fizeres bem, em lugar deste semblante abatido, naturalmente erguerias a cabeça e terias um semblante alegre como aqueles que agem com propósitos elevados. Mas senão fizeres o bem, e continuares alimentando ódio contra teu irmão, por sua oferta ser aceita e a tua rejeitada, o pecado descerá à tua porta como um animal feroz por sua presa. Serás infalivelmente uma vítima de tua pecaminosa paixão. O pecado deseja dominar-te, mas não deves temê-lo porque o Senhor te concederá poder para enfrentá-lo e sair vitorioso. Por não ter dado a mínima atenção à advertência divina, uma sangrenta tragédia se seguiu: o bárbaro assassinato de seu irmão. Após o ato consumado, o Senhor disse a Caim: “A voz do sangue de teu irmão clama da terra a Mim”.

O castigo por fazer a própria vontade e não a vontade divina está relatado nos versos 11 e 12 do mesmo capítulo.

Comparando-o em várias traduções e pesquisando o que dele disseram os comentaristas, eis uma tentativa que fiz para o traduzir:

Se você for bom, poderá reerguê-lo (o semblante), mas se não for, o pecado como um animal bravio está à sua porta, ansioso para dominá-lo, mas você o poderá vencer.

sábado, 10 de março de 2012

O Arrependimento de Deus e do Homem

O leitor da Bíblia ao chegar a passagens como Gênesis 6:6; I Samuel 15:11 e Jonas 3:10 que declaram que Deus se arrependeu e posteriormente confrontá-las com Números 23:19;I Samuel 15:29; Salmo 110:4 e Hebreus 6:17 que afirmam ser impossível que Deus se arrependa, pensará que existe grande contradição na Palavra de Deus quanto ao arrependimento divino.
Com a finalidade de dissipar dúvidas sobre a veracidade da palavra inspirada e para que declarações aparentemente conflitantes sejam esclarecidas esta monografia foi preparada. Para que este objetivo seja alcançado é necessário pesquisar diretamente nas línguas originais em que o Velho e o Novo Testamento foram escritos, porque estas nos fornecem elementos convincentes.

O Que é Arrependimento?

Afirmou Billy Graham que se o vocábulo arrependimento pudesse ser descrito com uma palavra, ele usaria o vocábulo renúncia. E esta renúncia seria o pecado.
O primeiro sermão pregado por Jesus foi: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”
Devemos a salvação unicamente à graça de Deus, mas a fim de que o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário se torne eficaz ao crente, é preciso que ele se arrependa do pecado e aceite a Cristo através da fé.
O arrependimento é mencionado 70 vezes no Novo Testamento. Jesus disse: “. . . se, porém não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.”
Que significaria a palavra arrependimento para Jesus?
Qualquer um de nossos dicionários a definirá como “sentir tristeza, ou lamentar.” Porém, a palavra no original hebraico e grego tem uma conotação muito mais ampla por significar mais do que lamentar e sentir tristeza pelo pecado.
Arrependimento na Bíblia significa “mudar ou voltar-se”. A Palavra indica que deve haver uma completa mudança no indivíduo.
Pedro mostrou com seu arrependimento que estava disposto a transformar sua vida, a seguir uma nova direção. De outro lado, Judas entristeceu-se, sentiu remorso, mas não se arrependeu.
De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “arrependimento é sinônimo de compunção, contrição. Insatisfação causada por violação da lei ou de conduta moral e que resulta na livre aceitação do castigo e na disposição de evitar futuras violações.”
Como um termo teológico é o ato de abandonar o pecado, aceitando a graciosa dádiva da salvação de Deus, entrando para o companheirismo com Ele.
Arrependimento evangélico tem sido definido como mudança de pensamento, que leva a novo modo de agir. Em outras palavras, é a revolta consciente e definitiva do homem contra seu próprio pecado.
Arrependimento significa tornar-se outra pessoa. “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de medo algum entrareis no reino dos céus”. Mateus18:3.
Russell Norman Champlin assim define arrependimento:
1º) “É um ato divino que transforma o homem, mas que depende de reação positiva do homem, uma vez inspirada pela fé.”
2º) “É o começo do processo da santificação.”1
“Consiste de uma revolução naquilo que é mais determinativo na personalidade humana, sendo o reflexo, na consciência, da radical mudança operada pelo Espírito Santo por ocasião da regeneração.”2

Arrependimento no Velho Testamento

No hebraico são encontrados dois vocábulos para expressar a idéia de arrependimento.
1. hbb – Naham. É o arrependimento de Deus e corresponde ao grego metamélomai. As seguintes passagens bíblicas confirmam a sua existência. Gênesis 6: 6 e 7; Êxodo 32: 14; Jonas 3:9 e10.
Deus é imutável em seu ser, na sua perfeição e em seus propósitos. O arrependimento divino não traz mudança do seu ser, do seu caráter, mas apenas mudança em sua maneira de tratar com os homens. O arrependimento de Deus é uma referência à alteração que se realiza na sua relação para com o homem. O exemplo dos ninivitas nos ajuda a compreender o arrependimento de Deus. A cidade não foi destruída porque o povo se arrependeu de suas más obras. Deus mudou o seu tratamento devido à mudança operada no povo. O arrependimento de Deus (Naham) foi uma conseqüência do arrependimento do povo (Shubh).
Na International Standard Bible Encyclopaedia, vol. IV, pág. 2.558 se encontra a seguinte explicação:
“A palavra hebraica Naham é um termo onomatopaico, que significa dificuldade em respirar, como gemer, suspirar, e também lamentar, magoar-se, compadecer-se e, quando a emoção é produzida pelo desejo do bem dos outros, chega a significar compaixão e simpatia; quando, porém, se refere ao próprio caráter e atos, significa lastimar, arrepender-se. A fim de adaptar a linguagem à nossa compreensão, Deus é representado como alguém que se arrepende, quando retarda as penalidades que tem de aplicar ou quando o mal a sobrevir é desviado por ter havido uma reforma genuína (Gênesis 6:6; Jonas 3:10).”
II. dd` – Shubh – arrependimento do homem.
Este vocábulo hebraico corresponde ao grego metanoéo.
A palavra significa girar, voltar ou retornar, e é aplicada quando a pessoa deixa o pecado e se volta para Deus de todo o coração.
Se pecado etimologicamente significa falhar em atingir o alvo, desviar-se do caminho certo; arrepender-se é retornar ao caminho correto ou total retorno da pessoa a Deus.

O Arrependimento no Novo Testamento

Assim como há no hebraico duas palavras, uma para expressar o arrependimento divino e outra o humano, existem também em grego duas diferentes palavras para transmitir estes dois tipos de arrependimento.
I. O verbo usado em grego para o arrependimento de Deus é metamelomai – metamélomai.
Metamélomai pode ser traduzido por pesar, sentir tristeza, remorso, mudança de sentimento. Ter cuidado ou preocupação por alguém ou alguma coisa. Etimologicamente significa mudar uma preocupação por outra.
Possuindo Deus caráter e atributos imutáveis Ele é perfeito, logo não pode mudar nem para melhor nem para pior. No entanto, a imutabilidade divina não consiste em agir sempre da mesma maneira. Há casos e circunstâncias que podem ser alterados.
Strong nos esclarece sobre a imutabilidade de Deus:
“Deus, embora imutável, não é imóvel. Se Ele, coerentemente, segue um curso de ação segundo a justiça, Sua atitude precisa ser adaptada á toda mudança moral nos homens. A imutável santidade de Deus requer que Ele trate os ímpios diferentemente dos justos.
“Quando os justos se tornam ímpios, seu tratamento a respeito destes deve mudar. O sol não é volúvel ou parcial porque derrete a cera, enquanto endurece o barro; a mudança não está no sol, mas nos objetos sabre os quais brilha. A mudança no tratamento de Deus para com os homens é descrita antropomorficamente como se ocorressem mudanças no próprio Deus.”3
II. Metanoeo – metanoéo é o verbo usado em grego para o arrependimento do homem.
Dicionários e comentários nos informam que significa:
a) Uma mudança de mente, de pensamento
b) Literalmente significa pensar diferentemente.
c) Teologicamente a palavra inclui não somente mudança da mente, mas uma nova direção da vontade, propósito e atitudes.
O verbo metanoéo é usado em o Novo Testamento 32 vezes.
O arrependimento inclui três aspectos:
1º) O aspecto intelectual, ou seja, o reconhecimento, pelo homem, do erro de sua vida, sua culpa diante de Deus, sua incapacidade para, em suas próprias forças agradar a Deus. Sendo o homem um ser intelectual, Deus somente se agrada em ser adorado por meio de um processa racional.
2º) O aspecto emocional – tristeza pelo seu pecado como uma ofensa contra um Deus santo e justo. Os sentimentos não são equivalentes ao arrependimento, mas podem conduzir a um verdadeiro arrependimento, porque o verdadeiro arrependimento não pode provir de um coração frio ou indiferente.
3º) O aspecto da vontade ou volitivo – mudança de propósito, resolução íntima contra o pecado e disposição para buscar de Deus o perdão, purificação e poder. Este é o mais importante dos elementos, pois Deus pode apelar à pessoa para se converter, chamá-la ao arrependimento, mas como Deus dotou o homem com o livre arbítrio, somente este pode ou não aceitar o perdão divino; somente o próprio homem pode escolher arrepender-se ou não.
Apesar das ponderações anteriores, o arrependimento, no mais profundo sentido está além das forças ou do poder humano. Ellen G. White declara: “O arrependimento, bem como o perdão, são dons de Deus por meio de Cristo.”4
É importante compreender (como insiste Morris Venden, o autor de Meditações Matinais, 1981, nos dias 22 a 31 de maio) esta verdade fundamental. Não podemos primeiro arrepender-nos para depois ir a Cristo. Devemos ir a Ele como estamos e Ele irá transformar a nossa vida.
Paulo em Romanos 2:4 nos asseverou com muita objetividade que é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento.
O arrependimento é um passo decisivo na vida do cristão, desde que a Bíblia no-lo apresenta como uma das condições para a salvação. As seguintes citações bíblicas corroboram para esta afirmação:
Mat. 3:1 e 2 – “Naqueles dias apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia, e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”
Mat. 4:17 – “Daí por diante passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”
Luc. 13:3 – “… Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.”
A Pena abalizada de Ellen G. White confirma a nítida distinção entre o arrependimento divino e humano.
“O arrependimento de Deus não é como o do homem. ‘Aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é um homem para que se arrependa.’ I Samuel 15:22. O arrependimento de Deus implica uma mudança de circunstâncias e relações. O homem pode mudar sua relação para com Deus, conformando-se com as condições sob as quais pode ser levado ao favor divino; ou pode pela sua própria ação, colocar-se fora da condição favorável, mas o Senhor é o mesmo, ontem, hoje e eternamente. Heb. 13:8.”5
“O arrependimento quando referente a Deus significa uma mudança de atitude, ou um voltar atrás. Nesse sentido é que a expressão é usada em I Sam. 18:8. Deus não modifica seu propósito, porém o homem, sendo um agente moral livre, pode modificar a realização do propósito divino. O relato de Jonas sobre a destruição de Nínive nos mostra que houve uma mudança de atitude com relação a Deus, e Ele também mudou Seu procedimento, isto é, arrependeu-se do mal de que lhes ameaçara.”6

Dois Exemplos Distintos de Arrependimento Encontrados na Bíblia

1º) O arrependimento de Pedro.
Após a negação do Mestre, quando o olhar compassivo e perdoador de Cristo lhe penetrou na alma, ele se rendeu à influência benfazeja do amor. Lucas 22:62 afirma que ele chorou amargamente. Esta é a tristeza que opera o arrependimento que conduz à salvação – II Cor. 7:9-10. O arrependimento de Pedro foi o metanoéo que modificou toda a sua vida. Ele estava triste por causa do seu pecado. Sua trágica queda por ocasião do julgamento de Cristo, seguida de seu arrependimento e subseqüente reabilitação, aparece como sendo o ponto de conversão de sua vida e caráter. Daí por diante, e com uma única exceção (Gál. 2:11-13), ele nos é apresentado como nobre apóstolo, com dignidade, coragem, prudência e firmeza de propósito.
2º) O arrependimento de Judas.
Em Mateus 27:3 se encontra o verbo metamélomai, que em algumas traduções aparece traduzido por arrepender-se, mas o seu arrependimento foi somente no sentido de tristeza ou remorso pelo seu pecado, e não no sentido de mudança de vida, de abandono do pecado. Essa tristeza segundo o mundo é a que opera a morte (II Cor. 7:10).
Judas não sentiu profundo pesar por haver traído a Cristo, mas tristeza por perceber que seus planos falharam.
O verbo metamélomai foi usado porque o seu arrependimento foi apenas mera tristeza, desespero, sem nenhuma mudança da mente (metanoéo).
Cristo sabia que o traidor não se arrependera verdadeiramente.
A pena inspirada confirma esta declaração:
“Até dar esse passa Judas não passara os limites da possibilidade de arrependimento. Mas quando saiu da presença de seu Senhor e de seus condiscípulos, fora tomada a decisão final. Ultrapassara os termos.”7

Conclusão

A idéia principal na afirmação de que Deus se arrependeu, nada tem a ver com falhas e pecados como acontece com o homem, mas apenas a sua mágoa com o mau procedimento humano e o seu desejo de sustar o curso do mal.
Rendamos sempre graças a Deus porque no seu infinito amor ele se entristece com o nosso pecado e muda o seu tratamento, quando nos arrependemos de nossas obras más.
Deus é imutável, mas a mutabilidade humana faz com que ele mude o seu trato para conosco.
Referências
1. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. III, pág. 68.
2. O Novo Dicionário da Bíblia, vol. 1, pág. 141.
3. A Teologia Sistemática de Strong, pág. 124.
4. Testemunhos Seletos, de Ellen G. White, vol. II, pág. 94.
5. Patriarcas e Profetas, de Ellen G. White, pág. 630.
6. SDA Bible Dictionary
7. O Desejado de Todas as Nações, de Ellen G. White, págs. 654 e 655.
Extraído do livro “Explicação de Textos Difíceis da Bíblia” de Pedro Apolinário, Professor de Grego e Crítica Textual no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia.

O Problema da Dor e do Sofrimento Humano


 
As seguintes perguntas nos devem levar à reflexão e a preparar o espírito para melhor compreensão deste tema.
a) É a dor um bem ou um mal?
b) Por que pessoas boas sofrem grandes males, enquanto maus e perversos, muitas vezes, estão livres de infortúnios?
c) O que nos ensina uma melhor lição: a dor, o sofrimento; ou a segurança, a prosperidade?
d) Por que Salomão diz em Ecles. 7:2 que é melhor ir à casa onde há morte, tristeza do que à casa onde há festa, alegria?
e) Se Deus é amor e bondade por que permite Ele o sofrimento em nosso mundo?
f) Sabemos dar uma resposta bíblica satisfatória para o problema da dor e do sofrimento?
Pregação é uma mensagem divina para uma necessidade humana. Creio sinceramente que há grande necessidade de compreender bem o problema da dor e do sofrimento entre nós.
Existem pelo menos quatro idéias apresentando razões para o sofrimento:
1ª) É a Vontade de Deus.
2ª) A pessoa está recebendo o castigo, por causa do seu pecado.
3ª) Sofremos porque Deus nos está disciplinando.
4ª) O sofrimento é causado por Satanás e pelo desobediência ou ignorância do homem.
Estas quatro explicações são apresentadas na Bíblia, especificamente no livro de Jó, mas três são respostas humanas, portanto erradas, enquanto a quarta é de origem divina, logo correta.
Queremos estudá-las para que todos tenhamos boa compreensão deste problema que nos preocupa e a todos atinge.
A finalidade do livro de Jó é apresentar uma solução correta para o problema da dor e do sofrimento.
É a dor um bem ou um mal?
Dor é advertência do perigo, dor é a guarda da vida.
Zenão, filósofo grego, do III século AC. foi o criador do estoicismo. O estoicismo é a doutrina que vê no sofrimento um benefício para o homem. O lema da escola era: Dor tu és uma bênção para nós. Os estóicos sofrem sem se queixarem.

1ª) É a vontade de Deus

Muitos afirmam que as tragédias e os dissabores da vida manifestam a vontade divina.
O poeta Magalhães Muniz expressa esta mesma idéia nestes dois versos:
O sofrimento é lâmpada sagrada,
Que a mão de Deus acende em nossa vida.
Esta é a idéia dos muçulmanos. Devem aceitar o sofrimento como a vontade de Deus. Islamismo significa submissão à vontade divina.
Esta afirmação é totalmente antibíblica.
Poderá Deus desejar que seres humanos criados à sua imagem sofram enfermidades e desgraças?
O próprio Jó, a exemplo de tantos hoje, pela estreiteza da mente era incapaz de compreender os planos divinos.
Jó 30:6 – “Sabei agora que Deus é que me oprimiu.”
Jó 30:11 – “Porque Deus afrouxou a corda do meu arco, e me oprimiu…”
Jó 30:19 – “Deus, tu me lançaste na lama…”
Este raciocínio é humano, mais do que humano é diabólico, jamais endossado na Bíblia.
Deus não foi o causador do sofrimento de Jó – foi Satanás com o objetivo de que o paciente Jó visse a Deus, como um tirano e dele se afastasse.
Não tem ele conseguido este objetivo com muitas pessoas em nosso mundo?
Certo professor duma grande Universidade nos Estados Unidos foi atropelado por um carro, que o atirou ao chão, fraturando-lhe a perna. Depois de restabelecido ao assistir a um serviço religioso disse: “Não creio mais num Deus pessoal. Se houvesse Deus, Ele me teria advertido para eu tomar cuidado com o perigo do carro que se aproximava e me teria salvo dessa desgraça.”

2ª) Com o sofrimento Deus está castigando a pessoa.

O livro de Jó nos parece contraditório, conflitante em algumas de suas afirmações. Fique bem claro que Deus não está aprovando afirmações de Jó e muito menos os conceitos errados dos seus amigos.
Os três amigos de Jó – Elifaz, Bildade e Zofar argumentavam que Deus o estava castigando por causa dos seus pecados.
Elifaz declara em Jó 4:7 – “Lembra-te: acaso já pereceu algum inocente? E onde foram os retos destruídos?”
No capítulo 5, verso 6 ele é mais enfático – “Porque a aflição não vem do pó, e não é da terra que brota o enfado.”
Bildade com suas catilinárias – Jó 8: 4, 10-13 prossegue afirmando que Deus o está castigando porque ele é um pecador.
Como afirmar isto se o próprio Deus havia declarado em Jó 1:1, 8 que ele era um homem íntegro, reto, temente a Deus e que se desviava do mal.
“Permitiu que a aflição sobreviesse a Jó, mas não o abandonou. . . . Deus sempre tem provado o Seu povo na fornalha da aflição. É no calor da fornalha que a escória se separa do verdadeiro ouro do caráter cristão.” – Patriarcas e Profetas págs. 129.
No capítulo 11 Zofar acusa Jó de iniquidade.
Quem está certo? Deus ou os homens?
Raciocínios humanos não se devem opor aos ensinamentos divinos. Os amigos de Jó eram pessoas boas e sinceras, mas com noções erradas a respeito do caráter de Deus.
Se passarmos ao Novo Testamento veremos que os discípulos também pensavam da mesma maneira. Encontrando o cego de nascimento perguntaram a Jesus: “Quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? A resposta de Cristo é enfática e elucidativa: “Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus”. João 9:1-3.
Calamidades e desastres não significam castigo por pecados pessoais. Bons e maus se acham juntos na Terra e as tragédias sobrevêm a uns e a outros.
Como harmonizar esta declaração com as afirmativas bíblicas de que Deus cuida de seus filhos, que os anjos são seres ministradores enviados a nosso favor?
Após a triste tragédia que atingiu o Pastor José Monteiro, o Pastor _Enoch de Oliveira faz mais ou menos a seguinte declaração perante a Mesa Administrativa do IAE: “Está havendo poucos desastres diante da maneira ousada e imprudente de nossos pastores dirigirem seus automóveis”.
Deus não vai intervir quando nós infringimos as leis do trânsito. Ele não vai operar um milagre, quando alguém cansado e vencido pelo sono, continua dirigindo o seu carro como muitos têm feito e como eu também já fiz. Da mesma maneira que Ele não pode intervir, ajudar-nos ao sermos desrespeitadores das leis da saúde, transgressores de leis criadas por Ele. Mas quantas vezes o povo de Deus não tem sido livrado da morte e dos sofrimentos que Satanás provoca como mundo.
Três vezes Cristo faz referências a Satanás como Príncipe deste mundo: João 12:31; 14:30; 16:11.

3ª) Sofremos porque Deus nos está disciplinando.

Não está esta idéia bastante arraigada em nosso meio?
O quarto acusador de Jó, o jovem Eliú parece ser o pai deste argumento. Isto está bem confirmado no capítulo 33:19 e 29. Há muitos Eliús em nossos dias, bem intencionados, mas totalmente equivocados quanto ao modo de Deus agir com o homem.
Muitos admitem que Deus em Sua infinita sabedoria e bondade submete o homem a uma tortura cruel para purificá-lo.
Alguém afirmou: “O sofrimento é a escada da purificação”.
Em um Estudo Bíblico estampado na Revista Adventista do mês de Abril de 1952 pág. 11, há esta afirmação: “Deus nos purifica mediante a aflição. Isa. 48:10; Jó 23:10.”
Se fosse assim não deveríamos abrandar o sofrimento, porque seria contrário aos planos divinos. Sabemos que é uma obra divina o aliviar a dor. Se a perfeição fosse adquirida pelo sofrimento teríamos a salvação pelas obras. As penitências teriam a aprovação divina. A salvação só é obtida pela graça de Cristo mediante a influência do Espírito Santo no coração.
Note bem: Se Deus usasse a dor, o sofrimento para nossa disciplina haveria uma incoerência com a teologia bíblica que ensina algo diferente. I Cor. 3:16-17. Ainda mais o apóstolo João, em sua terceira carta, verso 2 declara: “Desejo que tenhas saúde”.
Há uma íntima relação entre a saúde do corpo e da alma. A condição física afeta a condição da alma, portanto o sofrimento não pode purificar a alma. Lendo o livro Temperança, especialmente, o capítulo Fumo, notaremos a nítida relação entre a saúde do corpo e da alma.
Mas não diz a Bíblia que Deus corrige, admoesta, disciplina os seus filhos?
Apoc. 3:19 – “Eu repreendo e castigo a quantos amo.”
Heb. 12:6 – “Porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita todo filho a quem recebe.”
Sempre que Deus tomou medidas disciplinares com os homens, quando a sua maldade era extrema como no Dilúvio e em Sodoma e Gomorra, antes de fazê-lo enviou mensageiros apelando para que as pessoas se arrependessem. Já o fez e o fará novamente no futuro, mas Isaías 28:21 nos diz que esta obra é uma obra estranha à personalidade divina.
Alguém estará raciocinando assim: “Se as idéias dos amigos de Jó estão relatadas na Bíblia, então elas são certas.”
A resposta a esta afirmação está em Jó 42:7 e 8. Deus repreendeu os amigos de Jó por havê-lo acusado injustamente, por haverem atribuído o sofrimento do patriarca à ira divina.
Através de perguntas que levassem Jó a raciocinar corretamente Deus o convence que tanto ele, quanto seus amigos, não compreendiam corretamente o trato de Deus com o homem. Nos capítulos 38 e 39 encontramos mais de 40 destas perguntas. Estas interrogaç6es, em última análise, visavam mostrar a Jó e a nós que Deus é o Criador e Mantenedor de tudo.
Jó havia lutado com um crocodilo e o havia vencido e domesticado. Jó 41:8. Se Deus se deleitava em cuidar de um animal perigoso e para nós até repulsivo como o crocodilo, quanto mais não cuidaria do homem criado à Sua imagem e semelhança? Deus não se esquecera de Jó, sofrera com ele. Como pois afirmar que Ele era o autor do castigo?
Estará Deus alheio, indiferente às nossas dores e sofrimentos? A Bíblia está repleta de afirmações que mostram a identificação divina com os que sofrem. Os exemplos são muitos, mas estes três são bastante enfáticos:
1º) Salmo 9:9 – “O Senhor é também alto refúgio para o oprimido, refúgio nas horas de tribulação.
2º) Salmo 41:3. O Senhor nos assiste no leito da enfermidade.
3º) II Cor. 1:4. É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação.

4ª) Qual a explicação bíblica, divina para a dor e o sofrimento?

A dor surgiu como conseqüência de um desvio das ordens divinas da parte dos nossos primeiros pais.
Prov. 26:2 última parte afirma: “Assim a maldição sem causa não se cumpre.”
A dor e sofrimento não podiam ser criados por Deus, pois são intrusos na criação divina. O culpado por estes males em nosso mundo é Satanás, e o homem que desobedeceu à ordem divina que preceituava – “mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.”
Deus dotando o homem do livre arbítrio, da liberdade, responsabilizou-o pelos seus atos. Apesar de avisado o homem contrariou os desígnios divinos.
Como alguém escreveu muito judiciosamente:
Deus fez o bem – o homem escolheu o mal.
Deus fez o homem justo, o homem procurou a impiedade.
Deus o fez feliz – ele procurou a desgraça e a miséria.
Em essência as Escrituras nos relatam o seguinte:
1º) O homem foi criado perfeito e colocado por Deus num mundo ideal.
A criação original é descrita como muito boa (Gên. 1:31), harmoniosa e ordenada, isenta de sofrimento.
2º) A condição de felicidade era obediência à vontade divina.
3º) Desobedecendo à lei divina o homem acarretou sobre si: sofrimento, miséria e morte.
“A história de Jó mostrara que o sofrimento é infligido por Satanás, mas Deus predomina sobre ele, para fins misericordiosos.” – O Desejado de Todas as Nações, pág. 471.
A sentença divina foi bem explícita – “Com dor terás filhos. Maldita é a terra por causa de ti, com dor comerás dela todos os dias da tua vida.”
A dor apareceu devido à desobediência dos nossos primeiros pais.
O poeta patrício Francisco Otaviano tornou clara a realidade de que todo o ser humano deve sofrer, pois em sua poesia Ilusão da Vida disse:
Quem passou pela vida em branca nuvem,
e em plácido repouso adormeceu;
quem não sentiu o frio da desgraça;
quem passou pela vida e não sofreu,
foi espectro de homem, não foi homem;
só passou pela vida, não viveu.
Annie Johnson Flint escreveu um lindo poema que diz:
Deus não prometeu céus sempre azuis,
veredas semeadas de flores por toda a vida;
não prometeu sol sem chuva,
nem alegrias sem tristeza ou paz sem dor;
mas Deus prometeu forças para o dia,
luz para o caminho, graças para as tribulações,
auxílio de cima, compaixão inalterável e imorredouro amor.
O profeta Daniel, não foi guardado de ir para a cova dos leões; porém o anjo do Senhor esteve, com ele ali.
José era justo, mas foi da mesma maneira para a prisão. As Escrituras dizem: “O Senhor, porém estava com José”. Gên. 39:21.
Se tivermos de enfrentar dores e tribulações devemos estar confiantes que o Senhor estará conosco.
Heb. 13:6 – “Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?”
Deus tolera o sofrimento e pode ser até que por meio de aflições, dores e tribulações esteja nos ensinando algumas lições, que de outro modo não aprenderíamos, mas jamais olvidemos que em todas nossas angústias Ele é angustiado. Isa. 63:9.
“Paulo tinha um sofrimento corporal, tinha má vista. Pensava ele que por meio da oração fervorosa a dificuldade fosse removida. Mas o Senhor tinha o Seu próprio propósito, e disse a Paulo: Não fales mais deste assunto. Minha graça é suficiente. Eu te capacitarei para suportares a enfermidade”. – Comentários de E. G. White, SDABC, Vol. VI, p. 1117.
O sofrimento corporal foi permitido para que ele não se exaltasse. II Cor. 12:7.
Foi João Batista o culpado pelo seu sofrimento da prisão, pelo desfecho trágico de sua existência? Por que Deus permitiu que isto acontecesse é quase inexplicável por argumentos humanos.
Há algumas passagens na Bíblia que não podemos compreender muito bem.
• Salmos 116:15 – “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos.”
• Isa. 57:1 – “. . . pois o justo é levado antes que venha o mal.”
O que nos ensina uma melhor lição: o sofrimento, o luto ou segurança e a prosperidade?
Há uma resposta na Bíblia para esta indagação.
Ela se encontra em Eclesiastes 7:2 e 3 – “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.”
Segundo a Bíblia os discípulos de Cristo recebem de Deus a força para suportar os sofrimentos, mas em nenhum lugar ensina um comportamento estóico.
A obra de Cristo consiste em livrar o homem do sofrimento, da corrupção e da morte (Rom. 8:21; I Cor. 15:26), bem como do pecado (Mat. 1:21).
Qual deve ser a nossa atitude para com a dor e sofrimento?
A resposta se encontra em I Pedro 4:16, 19.
Devemos aceitar a dor e o sofrimento com espírito cristão. Eles nos devem levar a confiar mais em Deus.
As aflições aceitas com espírito cristão suavizam as asperezas da vida, controlam as ambições humanas, removem o egoísmo e o orgulho.
Os sofrimentos nos ensinam a paciência e enriquecem a nossa experiência.
Goethe escreveu: “Se tua dor te incomoda faze dela um poema”.
É interessante notar que muitas das mais belas páginas literárias, dos mais belos e sublimes hinos, das mais eloqüentes composições musicais foram inspirados em momentos de profunda tristeza. Foi a dor diante da morte do filho que levou Fagundes Varela a nos brindar com o Cântico no Calvário, uma das mais sublimes páginas da literatura brasileira.
Beethoven, Mozart e Haendel acometidos por cruéis sofrimentos compuseram músicas de imorredoura beleza.

Conclusão

Diante da dor e do sofrimento – os estóicos suportam, os epicuristas procuram o prazer como compensação; os budistas e os hindus, sem esperanças se retiram desiludidos; os maometanos se submetem, pois crêem ser a vontade de Deus. Mas nós firmados na palavra do Senhor os colocamos em seu devido lugar, e até podemos nos alegrar porque eles nos aproximam mais de Deus.
Graças a Deus pela declaração de O Grande Conflito, pág. 676:
“A dor não pode existir na atmosfera do Céu. Ali não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres, manifestações de pesar. ‘Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, … porque já as primeiras coisas são passadas.’ Apoc. 21:4. ‘E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absolvido da sua iniqüidade.’ Isa. 33:24.”
Se no início da Bíblia há o relato da entrada da dor e do sofrimento, no seu final há promessas de um novo céu e uma Nova Terra, onde tudo isto estará no passado.
Demos Graças a Deus pela orientação segura da sua Palavra, porque esperamos uma Terra onde poderemos viver felizes, sem temor, decepções e sofrimentos.
Extraído da Apostila Explicação de Textos difíceis da Bíblia de Pedro Apolinário.

Cristo é a Pedra e não Pedro como afirma a Igreja Católica – (O Primado de Pedro – Refutado)!)

São Mateus 16:18 tem sido considerado como o texto mais controvertido do Novo Testamento. Nenhum outro tem suscitado tantos problemas e levantado tantos debates.
A Igreja Católica Romana tem pregado através dos séculos, que Cristo nomeou São Pedro chefe dos Apóstolos, primaz de seus colegas, superior hierárquico da ordem clerical, papa da Cristandade.
Se perguntarmos: Mas, onde estão no Novo Testamento os títulos dessa nomeação e dessa transmissão hereditária, três passagens serão citadas:
1) São Mateus 16:18-19.
2) São Lucas 12:31, 32.
3) São João 21:15-17.
Dos três passos citados o único importante para a defesa católica é o de Mateus 16:18, 19. Apelando ainda para a tradição, a igreja de Roma pretende provar estas quatro coisas:
1) Pedro é a pedra fundamental do texto de Mateus.
2) Pedro foi o superior hierárquico dos Apóstolos.
3) Pedro estabeleceu em Roma a sede de seu episcopado.
4) Ele instituiu os bispos de Roma seus herdeiros.
Os líderes católicos romanos chamam de “Primado de Pedro” esta distinção e primazia sobre os demais apóstolos.
A dificuldade exegética de Mat. 16:18, 19 encontra-se na interpretação correta de duas metáforas – pedra e chaves.
Quem é a pedra? O que são as chaves?

Identificação da Pedra

A leitura atenta do contexto é útil para uma melhor compreensão do assunto.
Jesus caminhando para Cesaréia de Filipe pergunta aos discípulos: “Quem diz o povo ser o Filho do homem?” Mat. 16:13.
Após várias respostas interroga diretamente os discípulos: “Mas vós quem dizeis que eu sou?”. A resposta de Pedro é imediata e firme: “Tu és o Cristo, e Filho do Deus vivo”. Mat. 16:15-16.
A Igreja Católica Romana ensina que como recompensa a esta confissão. . .
1) Cristo lhe mudou o nome, indicando a posição que ocuparia daí por diante.
2) Edificou a Sua Igreja sobre Pedro.
Cristo não mudou o nome neste momento, mas apenas confirmou o sobrenome que lhe atribuíra no dia do seu chamado. S. João 1:41, 42; S. Lucas 6:14.
Três principais e diferentes interpretações têm sido dadas para identificar a pedra sobre quem Cristo edificou a Sua Igreja:
1ª) A pedra é Cristo.
2ª) A pedra sobre a qual a igreja está edificada é Pedro.
3ª) A pedra é a confissão que Pedro fizera sobre Cristo.
Pais da Igreja, Teólogos e Comentaristas têm lutado com mais ou menos ardor em defesa de cada uma destas alternativas. Antes de discutirmos sobre quem a Igreja foi construída seria bom lembrar estes princípios hermenêuticos:
Deixe a Bíblia interpretar a própria Bíblia, pois como disse Irineu: “Se há passagens obscuras, estas se explicam pelas que são mais claras, de tal sorte que a Escritura se explica pela própria Escritura”.
Orígenes apresenta mais ou menos a mesma idéia através das seguintes palavras: o texto deve ser interpretado através do conjunto das Escrituras e nunca através de textos isolados.

A Pedra é Cristo

Teólogos protestantes sempre foram ardorosos defensores da Igreja construída sabre Cristo.
Jerônimo, Agostinho e Ambrósio aplicam a pedra tanto a Pedro como a Cristo. Eis as palavras que aparecem no fim do Evangelho de S. Mateus, tradução da Bíblia do Padre Antônio Pereira de Figueiredo, edição de 1857, de Lisboa, pág. 95:
“Santo Agostinho no tratado CXXIV sobre S. João entende por esta pedra não a Pedro, mas a Cristo, em quanto confessado Deus por Pedro, como se Cristo dissera: Tu és Pedro, denominado assim da pedra, que confessaste, que sou eu, sobre a qual edificarei a minha igreja”.
Estas palavras do maior teólogo católico romano por serem muito claras dispensam comentários.
É do nosso conhecimento que o termo “pedra ou rocha” foi usado no Velho Testamento para Deus. Salmo 18:2 – “O Senhor é a minha rocha”; Deut. 32: 4 – “Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas.”
O Messias é descrito em Isaías 28:16 como “uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada”.
O Novo Testamento apresenta a Cristo como o fundamento da igreja: 1 Cor. 10:4; Atos 4:12; Rom. 9:33; 1 Cor. 3:11; Efés. 2:20; I Pedro 2:4, 5; Mat. 21:42-44.
A estrutura da fé cristã tem resistido, e irá resistir até o fim, porque é construída sobre um alicerce firme – o próprio Jesus Cristo.

Argumento Baseado na Diferença Entre Pétros e Pétra

O Folheto Nº 44, da Série V.A. pontifica: “O Evangelho de S. Mateus foi escrito originalmente em aramaico”.
Há uma forte corrente baseada em algumas citações de Pais da Igreja, como uma de Irineu, apresentada por Eusébio (História da Igreja, vol. 8) que diz:
“Mateus escreveu seu Evangelho entre hebreus, em sua própria linguagem, enquanto Pedro e Paulo estavam pregando e fundando a igreja em Roma, sendo depois traduzido para o grego”.
Na base desta citação e de outras congêneres alguns concluem que o Evangelho de Mateus foi primitivamente escrito em aramaico. Se escreveu em aramaico a distinção entre Pétros e Pétra não podia existir.
Outros ainda acrescentam: Cristo falava o aramaico, não o grego, não fazendo também esta distinção. Se Cristo não a fez por falar em aramaico, por que Mateus ao relatá-las em grego não poderia fazer inspirado pelo Espirito Santo?
Suposições de alguns Pais da Igreja, reforçadas por um ou outro teólogo moderno, não nos devem levar à conclusão definitiva de Mateus ter sido escrito em aramaico.
É preferível ficar com as declarações do Comentário Adventista, vol. V, pág. 272:
1) O texto grego de Mateus não revela as características de uma obra traduzida.
2) A uniformidade de linguagem e estilo nos conduzem à distinta impressão de que o livro foi escrito em grego.
Dicionários e Comentários nos comprovam que Pedro, em grego “Pétros” significa um fragmento de pedra, pedra movediça, lasca da rocha; enquanto pedra, no grego “Pétra” significa rocha, massa sólida de pedra.
Alguns comentaristas asseveram que o Espírito Santo orientou o apóstolo, ao redigir esta passagem para empregar duas palavras, em grego, para evitar a idéia de que Pedro fosse a pedra.
Desta sucinta explicação se conclui que Pétros não é um símbolo apropriado para um fundamento, um edifício, mas que Pétros – rocha – é um símbolo muito próprio para o fundamento estável e permanente da Igreja.
Na Ilíada, VI1, 270, Ajax está atirando uma Pedra (Pétros) em Heitor, mas na Odisséia, IX, 243, há o relato de uma Pedra (Pétra) colocada na Porta de uma caverna, inamovível pelo seu tamanho descomunal.
Afirmam alguns que esta distinção do Grego Clássico não mais existira na (Koinê) do Novo Testamento, porque o povo comum destrói sutis distinções gramaticais.
Moulton afirma que em Mateus 16:18 Cristo usou a forma Pétros, masculina, para Pedro, porque não era próprio aplicar a um homem um nome feminino.

A Igreja Construída Sobre Pedro

Esta tese é sustentada pela maioria dos comentadores católicos.
Vincent, comentando Mateus 16:18 defende a idéia de que a Igreja foi construída sabre Pedro, desde que Cristo nesta passagem aparece não como a fundação, mas como o arquiteto.
Outros apresentam o seguinte argumento: a conjunção coordenativa “e”, em grego “kai” liga orações que têm o mesmo valor, por isso se Cristo visasse estabelecer um contraste entre ele e Pedro teria empregado a conjunção “allá” = mas. Este argumento não é seguro porque “kai” tem em grego também o significado de “mas”. Ver Arndt and Gingrich, página 393 e Robertson, página 1181.
A igreja católica se baseia num texto isolado sem levar em consideração o consenso de todo o ensino bíblico a respeito, isto é, sem considerar os dois princípios hermenêuticos (de 1rineu e Orígenes) já citados anteriormente.
Cotejando vários textos das Escrituras chega-se à conclusão iniludível de que a Bíblia ensina que Cristo é a Pedra e não Pedro.
O próprio Pedro, através de suas enfáticas declarações, se encarregou de dirimir todas as dúvidas neste sentido. I S. Pedro 2:4-8.
Paulo, outro grande baluarte do cristianismo, apresenta em seus escritos declarações insofismáveis de que Cristo é a Pedra. I Cor. 3:10-11; 10:4; Efés. 2:19-22.

Provas Bíblicas de que Pedro não foi Escolhido como Líder da Igreja, ou Superior Hierárquico dos Apóstolos

a) Mateus 23:8 e 10 nos ensina que Cristo não queria que nenhum deles fosse mestre ou guia, porque esta é uma prerrogativa divina.
b) Lucas nos relata (9:46; 22:24-30), que por duas vezes se levantou entre os discípulos, o problema de quem entre eles tinha a primazia. Tal problema jamais se levantaria se Cristo tivesse estabelecido a Pedro como superior a eles.
c) Se Cristo tivesse indicado a Pedro como o líder da Igreja, como o Papa, ele seria infalível em suas decisões, portanto jamais lhe aconteceria o que Lucas nos relata no seu evangelho capítulo 22:54-60.
d) Sendo Pedro o dirigente seria a pessoa que enviaria outros, mas Lucas nos informa em Atos 8:14 que Pedro e João foram enviados pelos apóstolos.
e) Se fosse o superior hierárquico dos apóstolos a argüição que eles fizeram e a defesa de Pedro seriam inoportunas e desarrazoadas, conforme o relato de Atos 11:1-18.
f) O primeiro concílio da igreja não foi convocado e dirigido por Pedro mas por Tiago. O contexto apresentado pelo Dr. Lucas (Atos 15:13, 19) sugere que Tiago era o presidente.
g) Em Atos 15:22-29 há o relato de que a epístola enviada a Antioquia foi dirigida em nome dos apóstolos, dos presbíteros, e da igreja e não por Pedro.
h) Se Pedro fosse o líder, Paulo não poderia escrever o que se encontra em Gálatas 2:11-14, pois seria faltar à ética hierárquica. A afirmação de Paulo no verso 11 é bastante taxativa para desmoronar todo o falso edifício que o papado tem construído na base de Mateus 16:18 sobre o primado de Pedro.
i) 1 Coríntios 12:28. Se Pedro fosse o Papa, na enumeração dos ofícios da Igreja, Paulo não se esqueceria deste tão preeminente – o Vigário de Cristo.
j) Paulo afirma em Gálatas 2:9 que Tiago, Cefas (Pedro) e João eram considerados como colunas. Note-se que Tiago está em primeiro lugar.
No SDABC, Vol. V pág. 431 se encontram estas oportunas palavras:
“Talvez a melhor evidência. de que Cristo não apontou a Pedro como a ‘pedra’ sobre a qual edificaria Sua igreja seja o fato de que nenhum dos que ouviram esta afirmação de Cristo, nem o próprio Pedro assim entendeu Suas palavras, nem durante o tempo em que Cristo esteve na Terra nem posteriormente. Houvesse Cristo feito a Pedro chefe entre os discípulos, depois disto eles não se veriam envolvidos em discussões sobre qual deles seria considerado o maior.”

Pedro Estabeleceu em Roma a Sede de Seu Episcopado. Esteve Pedro em Roma?

Eduardo Carlos Pereira no livro O Problema Religioso na América Latina, págs. 276 a 278, procura provar, que afirmações da igreja católica, quanto à estada de Pedro em Roma são destituídas de valor por lhe faltarem base comprovatória.
A Igreja Católica declara que Pedro estabeleceu em Roma a sede do seu governo no ano 42 e que após ter governado a Igreja por 25 anos, ai faleceu mártir com Paulo, no ano 67, durante o reinado de Nero.
As principais ponderações de Eduardo Carlos Pereira são estas:
1ª) Se Pedro estivesse em Roma a Epístola aos Romanos, escrita em 58, seria desnecessária, porque haveria quem os exortasse e doutrinasse.
2ª) A Igreja Católica cita vagas afirmações de Clemente, Papias e Hierápolis para concluir que Pedro esteve em Roma, como líder da igreja todos aqueles anos. Mas como harmonizar estas declarações com o fato do Novo Testamento que se iniciou depois de 42 AD e foi concluído no final do século silenciar totalmente sobre a notável investidura de Pedro como a cabeça da Igreja?
3ª) Cita do renomado historiador eclesiástico P. Schaff, do livro History of the Church, Vol. 1, página 250 esta afirmação:
“A tradição romana de 20 ou 25 anos de episcopado de S. Pedro em Roma é sem contestação um erro cronológico colossal”.
4ª) Eusébio, História Eclesiástica, livro III, C. 2, provavelmente baseado em Irineu, declara que Lino foi considerado o primeiro bispo de Roma. Irineu afirma que Pedro e Paulo ordenaram primeiro bispo a Lino, cujo nome aparece em II Tim. 4:21.
Historiadores Católicos defendem ardorosamente a estada de Pedro em Roma, enquanto os protestantes negam a afirmação anterior.
Não há nenhuma prova bíblica para afirmar ou negar estas opiniões divergentes.
O Espírito de Profecia declara sobre esta pendência:
“Na providência de Deus foi permitido a Pedro encerrar seu ministério em Roma, onde sua prisão foi ordenada pelo imperador Nero, aproximadamente ao tempo da última prisão de Paulo”. – Atos dos Apóstolos, pág, 537.

A Igreja Construída Sobre a Confissão de Pedro

Crisóstomo (350-407 AD) afirmou que a igreja foi construída sabre a confissão de Pedro. Outros Pais da Igreja e reformadores como Lutero, Huss, Zwínglio e Melanchton defendem a mesma idéia.
Os fatos parecem indicar que esta não é a melhor interpretação, desde que a Igreja é construída não sobre confissões, mas sobre os que fazem a confissão, isto é, sobre seres vivos: Cristo, os Apóstolos e os que aceitam a Cristo como Seu Salvador. As passagens de Efésios 2:20 e 1 Pedro 2: 4-8 confirmam as declarações anteriores.

Que Significam as Chaves?

Se as chaves são usadas para abrir e fechar, a figura indica que as chaves do Reino dos Céus, servem para abrir e fechar o Reino dos Céus.
O abrir e fechar é expresso no texto por ligar e desligar ou desatar.
As chaves, que abrem e fecham a Casa de Deus, ligam os homens à Igreja, ou dela os desligam, são os princípios dos Evangelhos, as condições da Salvação, aceitas ou rejeitadas pelos homens. Pedro abriu, com a chave da Palavra de Deus, as portas do Reino dos Céus a três mil pessoas que se converteram, Atos 2:14-41. Este privilégio não foi apenas concedido a Pedro, mas a todos os discípulos. São Mateus 18:18.
Autoridades acatadíssimas na literatura bíblica nos ensinam que entre os rabinos “ligar e desligar” eram sinônimos de “proibir e permitir’. Esses doutores da lei se arrogavam o direito de possuir a “chave da ciência” para declarar o que era ilícito, segundo a lei de Moisés. As passagens de Mateus 23:14 e Lucas 11:52 nos esclarecem a este respeito.
Quando uma pessoa completava satisfatoriamente um curso de estudos com um rabi judeu, era costume receber ela uma chave, significando que se havia tornado bem versada na doutrina e que estava agora habilitada para abrir os segredos das coisas de Deus. As palavras de Cristo se referem a este costume.
“As chaves simbolizam a autoridade que Jesus confiou a Sua igreja para agir em Seu nome. Especificamente elas indicam as Escrituras onde Deus expõe o plano da salvação. A autoridade não é baseada numa escritura de igreja como tal, mas nas Escrituras”. – Lição da Escola Sabatina, 10-1-81.
Algumas declarações bíblicas nos levam a concluir que a igreja de Deus na Terra se acha investida de grande autoridade, mas esta autoridade tem sido mal interpretada pela Igreja Católica em alguns aspectos, como no problema de perdoar pecados.
Comentando S. João 20: 23, diz o douto exegeta Dr. Adão Clarke o seguinte:
“É certo que Deus unicamente pode perdoar pecados; e seria não somente blasfêmia, mas também crasso absurdo, dizer que qualquer criatura pudesse perdoar a culpa de uma transgressão cometida contra o Criador. Os apóstolos receberam do Senhor a doutrina da reconciliação e a doutrina da condenação. Os que em conseqüência de Sua pregação cressem no Filho de Deus, tinham perdoados os seus pecados; e os que não cressem, permaneciam na condenação.”
Russell Norman Champlin em O Novo Testamento Interpretado enfatiza a mesma idéia comentada acima ao analisar Mat.16:19:
“O perdão de pecados não pertence ao indivíduo, em si mesmo, mas Cristo outorga essa autoridade àqueles que pregam a Palavra de Deus, porquanto a aceitação ou rejeição dessa mensagem é que determina o ‘perdão’ ou ausência de perdão dos pecados, O homem não perdoa nem se recusa a perdoar, mas a sua ação, uma vez dirigida por Deus, está revestida dessa autoridade”.
As declarações de Ellen G, White no livro O Desejado de Todas as Nações, págs. 413 e 414, são bem claras neste sentido:
” ‘As chaves do reino dos céus’ são as palavras de Cristo. Todas as palavras da Santa Escritura são dEle e se acham aqui incluídas. Estas palavras têm poder para abrir e fechar os céus. Declaram as condições sob que os homens do recebidos ou rejeitados”.
Este pensamento do livro Mensagens Escolhidas, vol. II, pág. 396 jamais deve ser esquecido:
“Devemos lembrar que a igreja, enfraquecida e defeituosa como seja, é o único objeto na Terra a que Cristo concede Sua suprema consideração. Ele vela constantemente com solicitude por ela, e fortalece-a por Seu Espírito Santo.”
Teodoro Beza, a notável figura da Crítica Textual e propugnador da difusão do texto bíblico declarou:
“A igreja é uma bigorna que já desgastou muitos martelos.”

“As Portas do Inferno Não Prevalecerão Contra Ela.” Que Significa Esta Afirmação?

A interpretação mais comum é que os poderes do mal nunca poderão prevalecer contra a Igreja de Cristo. Outros comentaristas defendem que uma melhor interpretação, de acordo com o significado da palavra original – Hades – impropriamente traduzida por inferno, pois significa a habitação dos mortos, a sepultura; será que a morte que não pôde vencer a Cristo, também não poderá vencer os que O aceitarem como seu Salvador pessoal.
O SDABC analisando Mat. 16:18 afirma: “O triunfo de Cristo sobre a morte e a sepultura é a verdade central do cristianismo”.
“O último inimigo que será vencido é a morte”.
Será útil ainda o conhecimento do que afirmou Rui Barbosa em sua destacada obra – O Papa e o Concílio. (Obra traduzida de Janus, mas a introdução de Rui, exatamente a metade do livro, 330 páginas, por sua profundidade faz com que ela seja sempre atribuída ao ínclito brasileiro), pág. 412:
“Tudo isso explica-se, porém, logo que examinarmos de perto, mediante os Padres, a significação das bem conhecidas palavras de Cristo a S. Pedro. Não as aplica aos bispos de Roma como sucessores de S. Pedro nenhum dos Padres que trataram exegeticamente, nessa época, os tópicos do Evangelho relativos ao poder transmitido a Pedro (Mat. 16: 18; João 21:18). Que de Padres não se ocuparam com esses tópicas! Entretanto, nenhum daqueles cujos comentários possuímos ainda, Orígenes, Crisóstomo, Hilário, Agostinho, Cirilo, Teodoreto, nem dos outros cujas explicações se acham agrupadas nas Catenas, nenhum desses exprimiu, por uma sílaba sequer, a idéia de que se refira ao primaz de Roma a conseqüência da missão incumbida e das promessas dirigidas a Pedro. – Nenhum deles interpretou a pedra, ou a base onde o Cristo quer edificar a sua igreja, como atributo especialmente cometido a Pedro, e, por morte deste, hereditário. Aquilo para eles significava o próprio Cristo, ou a fé notória de Pedro em Cristo; porque nos seus escritos é freqüente confundirem-se essas duas idéias. – Por outro lado, entendiam-se que Pedro era tão fundamento da igreja quanto os demais apóstolos, isto é, pensavam que os apóstolos todos juntos formavam as doze pedras fundamentais da igreja.”
Após tecer considerações sobre a impossibilidade de Pedro ter sido o primeiro papa em Roma, Russel Norman Champlin conclui, ao comentar Mat. 16:18:
“Finalmente, podemos afirmar que essas doutrinas, como a do papado, a da extrema primazia de Pedro, só aparecem no dogma posterior da história eclesiástica, e não se alicerçam nas próprias Escrituras nem em qualquer precedente da igreja primitiva. Não havia primazia do bispo de Roma sobre o bispo de Jerusalém, de Cesaréia ou de qualquer outra localidade, A primazia do bispo de Roma foi desenvolvimento muito posterior”.
É certamente confortador crer que a igreja não esteja fundada sobre um homem frágil e vacilante como Pedro, que no momento em que o Mestre mais dele carecia o negou. Embora admiremos a Pedro e nos alegremos por sua nobre confissão, agradeçamos a Deus por Sua Igreja estar fundada sobre o “Príncipe da Paz”, a “Rocha Poderosa”, o “Fundamento Indestrutível” o “Nome Maravilhoso” o “Deus Forte” isto é, Cristo Jesus.

Nota

Este trabalho pesquisado em várias fontes, recebeu a melhor orientação das seguintes obras:
1. O Problema Religioso na América Latina de Eduardo Carlos Pereira e
2. O Comentário Adventista.
Extraído da Apostila Explicação de Textos Difíceis da Bíblia, de Pedro Apolinário
Via Sétimo Dia

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Duas Problemáticas Declarações em Marcos 7:15 e 19 – A Classificação dos Animais em Limpos e Imundos Deixou de Existir?


Marcos 7:15 – “Nada há fora do homem que, entrando nele o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina.”
Marcos 7:19 – “Porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E assim considerou ele puros todos os alimentos.”
O objetivo deste trabalho é esclarecer certas afirmações bíblicas, que por serem mal interpretadas, são usadas em defesa de ensinamentos não sancionados pelas Escrituras Sagradas.
Para uma boa compreensão deste assunto três princípios hermenêuticos devem ser relembrados:
1º) A Bíblia deve ser seu próprio intérprete.
2º) O contexto quase sempre ajuda a explicar o texto.
3º) Colocar os fatos narrados em sua moldura histórica.
Para chegarmos ao exato sentido do que Cristo quis dizer com a frase:
“Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar;” e a declaração de Marcos – “e assim considerou ele puros todos os alimentos”, precisamos analisar outras passagens bíblicas, que nos esclarecerão sobre o exato significado destas afirmativas. As duas mais significativas seriam:
a) A experiência de Pedro em Atos 10;
b) Os esclarecimentos paulinos em Romanos 14.
Estaria Cristo com esta declaração anulando ensinamentos do Velho Testamento? A classificação dos animais em limpos e imundos agora deixaria de existir?
Peçamos a Deus que nos esclareça a mente, para entendermos com clareza os sábios ensinamentos da Sua Palavra.

Comentários Gerais

I. A Experiência de Pedro com Cornélio.
Lucas nos relata a experiência com certa pessoa de destacada posição social, da cidade de Cesaréia, chamada Cornélio. São salientados os predicados que ornavam seu caráter: piedosa e temente a Deus com toda a sua casa, dava muitas esmolas aos necessitados e de continuo orava a Deus. Apesar destes atributos, ele necessitava da orientação divina, para melhor compreender o seu plano para conosco. Foi esta a razão que ao estar orando um anjo lhe indicou que devia chamar a Pedro para lhe dar nova orientação.
Cristo, conhecendo que Pedro não estava preparado para este mister, deu-lhe a visão do terraço, na hora sexta (para nós ao meio-dia). Sendo a hora da refeição ele estava com fome e ao estar esta sendo preparada, ele viu o céu aberto, do qual descia algo como um grande lençol, repleto de animais próprios e impróprios para a alimentação, Neste ínterim, ele ouve aquelas tradicionais palavras: “Levanta-te, Pedro; mata e come” (Atos 10:13). Mas ele replicou com decisão e firmeza: “De modo nenhum, Senhor, porque jamais comi coisa alguma comum e imunda.” (10:14). A voz treplica: “Ao que Deus purificou não consideres comum.” (10:15).
O relato sem levar em consideração o contexto, e a interpretação através do conjunto das Escrituras, pode significar que não há alimentos imundos, já que Deus a todos purificou, porém, todos sabemos, que através desta visão, Deus queria ensinar a Pedro a não fazer distinção entre pessoas. Terminada a visão, ao Pedro estar reflexionando sobre seu exato significado, aproximam-se os mensageiros de Cornélio com o inusitado convite pana que fosse a sua casa. Iluminado pelo Espírito Santo ele compreendeu o exato significado da visão.
Esta experiência de Pedro nos científica de que ele teria recusado seguir àqueles gentios, se a visão não lhe tivesse sido dada. A visão nos mostra ainda, que Deus se utiliza de processos os mais variados, para nos ensinar suas preciosas lições.
A finalidade primordial da visão foi ensinar-lhe que não deveria considerar a nenhum homem comum ou imundo, pois todos são dignos de receber a salvação, Nada neste relato tem a ver com a classificação bíblica de animais próprios e impróprios para nossa alimentação.
II. O Problema de Consciência de Romanos 14.
Romanos 14 aparece na Tradução Revista e Atualizada no Brasil com o título: “A Tolerância para com os Fracos na Fé”. Aqueles que se opõem aos adventistas julgam encontrar em Romanos 14 poderosa escora para derribar a distinção bíblica entre animais limpos e imundos e a observância do sétimo dia.
O renomado estudioso W. Rand em seu Dicionario de la Santa Biblia, pág. 560 afirma:
“Segundo se depreende da própria epístola, o motivo que teve Paulo para escrevê-la foram as desinteligências que surgiam entre os conversos judeus e os conversos gentios, não somente em Roma, mas em todas as partes. O judeu, quanto aos seus privilégios, sentia-se superior ao gentio, o qual por sua vez, não reconhecia tal superioridade, e se sentia desgostoso quando tal se lhe afirmava.”
Conforme o terceiro princípio hermenêutico anteriormente citado seria bom destacar:
Com a expansão do cristianismo pela Ásia Menor e Europa, o evangelho foi aceito por gentios e judeus. Os judeus, mesmo após a sua aceitação do cristianismo, conservavam resquícios da tradição judaica e princípios da lei cerimonial.
O Comentário Adventista diz:
“De fato, os primeiros cristãos não foram solicitados a deixarem repentinamente de comparecer às festas judaicas anuais ou repudiarem de imediato, todos os ritos cerimoniais. . . O próprio Paulo, após sua conversão, esteve em muitas festas, e conquanto ensinasse que a circuncisão nada era, circuncidou a Timóteo, e concordou em fazer um voto de acordo com estipulações do Antigo Código.”
Além da inoportunidade destas festas e cerimônias dos judeus, o que mais agravava este estado de coisas, era o fato dos judaizantes quererem impor aos gentios estas observâncias. Os gentios não as aceitavam, com isso os judeus se irritavam, tornando o ambiente carregado e comprometedor para a causa do evangelho. Dentre estas pendências, destacava-se a carne sacrificada aos ídolos pelos pagãos. Após seu oferecimento a Júpiter, Mercúrio, Diana e a outros deuses mitológicos esta carne (bovina) era vendida, a preço módico, aos açougueiros, que a colocavam com as outras carnes que vendiam. Os judaizantes eram totalmente contrários à compra de carne no açougue, pelo fato de não saberem se ela tinha ou não sido oferecida aos ídolos. Os cristãos gentios não eram tão escrupulosos e criam que o oferecimento da carne aos ídolos não a contaminava.
O SDABC tecendo considerações sobre Romanos 14:1, acentua:
Débil na fé – Isto é, aquele que tinha limitada compreensão dos princípios da justiça, ansioso por salvar-se e disposto a fazer tudo quanto cria que dele se exigia. Contudo na imaturidade de sua experiência cristã e provavelmente em decorrência de sua crença e educação anteriores, ele procurava assegurar salvação pela observância de certos preceitos e regulamentos, que na realidade não se exigiam dele. Para ele tais preceitos assumiam a maior importância. Julgava-os absolutamente necessários à salvação, e ficava escandalizado e confuso, ao ver outros cristãos ao seu redor, sem dúvida mais amadurecidos e experientes, que não partilhavam destes escrúpulos.”
Com respeito às carnes sacrificadas aos ídolos, quem as julgasse imundas, não as deveria comer, embora não devesse julgar aquele que assim o fizesse.
I Cor. 8 trata do mesmo assunto e a sua leitura nos é mais elucidativa sobre este problema. O ponto capital, tanto em Rom. 14 e I Cor. 8 é concluir que não havia mal nenhum em comer carne sacrificada aos ídolos, mas se isto escandalizasse os irmãos fracos era melhor evitar.
Paulo não visa com estes relatos, determinar que espécie de alimento deve ser ingerido pelos cristãos, como uma exegese errada poderia mostrar. O fulcro da questão nada tem a ver com regime alimentar como todos os comentaristas reconhecem, mas simplesmente um problema de consciência. Em outras palavras, recomenda que aquele que é fraco na fé não deve ser desprezado pelos demais membros da igreja, mas sim tratado com o mesmo amor cristão.
O exegeta Charles R. Erdman em seu Comentário de Romanos, pág. 153 se expressa desta maneira:
“Aquele que é débil na fé, que não aprende o pleno sentido da salvação pela graça, que pensa que observar certas regras ou preceitos quanto ao alimento ou a ritos religiosas o fará mais aceitável diante de Deus, deve ser recebido na Igreja, contudo, não se deve com ele discutir a respeito desses escrúpulos por ele afagados. Uma pessoa pode admitir que comer ou abster-se de certos alimentos sadios é matéria de indiferença moral; outra pode crer que agradará mais a Deus se apenas se alimentar de legumes.”
Paulo orienta a igreja para o extermínio de partidos, a fim de que a igreja não se dividisse e os dois grupos pudessem viver num espírito de tolerância e harmonia.

Estudo do Contexto de Marcos 7:15 e 19

O evangelista começa o capítulo sete nos informando, que um grupo de fariseus e escribas se aproximou de Cristo para o interrogarem, porque os seus discípulos não seguiam preceitos estabelecidos pela tradição humana.
O Talmud está repleto de regras e regrinhas orientadoras de como o povo judeu devia comportar-se em todas as circunstâncias da vida.
Os discípulos e Seu Mestre orientavam-se por princípios elevados, porque advindos da palavra de Deus, e não por regulamentos humanos, que naquele tempo eram conhecidos como “Lei Oral” e “Tradição dos Anciãos”. Este comportamento díspar fez com que surgissem conflitos entre eles. Por exemplo, uma destas divergências era quanto a lavar as mãos, não por medidas higiênicas, mas como rito cerimonial.
Como bem nos esclarece o comentaristas William Barclay em El Nuevo Testamento, vol. 3, pág. 179:
“Esta era a religião para os fariseus e escribas. Rituais, cerimônias, regras e regulamentações como estas era o que se considerava a essência do serviço de Deus. A religião ética está imersa sob uma massa de tabus, regras e regulamentações.”
A resposta de Cristo é um terrível libelo aos ensinamentos dos homens:
“Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías, a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim, E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens.” Mar. 7:6-8.

A Verdadeira Contaminação

Ao ventilar este ponto negativo, totalmente farisaico, Jesus chamou a multidão para junto de Si e disse: “Ouvi-me, todos vós, e compreendei.” Mar. 7:14.
Cristo lhes ensina o que na realidade contaminava o homem. Através de uma linguagem figurada procurou mostrar-lhes que o verdadeiro objetivo da religião, consistia em libertar o cristianismo do legalismo. Apresentou-lhes o fato de que o coração é a fonte de toda a contaminação. “Nada há, fora do homem, que entrando nele, o possa contaminar, mas o que sai dele, isso é que contamina o homem.” Mar. 7:15.
Não há nenhuma preocupação, neste relato, em apresentar provas de que este alimento é limpo ou impuro, mas apresentar ao povo a necessidade de abandonar doutrinas, que são preceitos dos homens, e seguirem a religião pura ensinada por Cristo.
O Comentário Expositivo do Evangelho Segundo Marcos de J. C. Ryle, pág. 69, consigna:
“A pureza moral não depende de lavar ou deixar de lavar, de manusear ou deixar de manusear, de comer ou deixar de comer como queriam e ensinavam os escribas e fariseus.”
Jesus queria adverti-los de que não valeria nada fazerem tremendos esforços se hão tivessem o verdadeiro Deus. O resultado de lavar as mãos seria inútil, como o próprio Cristo disse, se o coração estivesse inundado de lascívia, de prostituição, furtos, homicídios, adultérios, avareza, malícia, dolo, inveja, soberba e loucura. Mar. 7:21-22.

Purificando Todos os Alimentos

Ao Deus estabelecer o homem na Terra, indicou-lhes precisamente qual deveria ser sua alimentação. O registro divino nos ensina que o homem devia comer os produtos do campo e das árvores, ou seja: grãos, nozes e frutas.
Gênesis 1:29, declara: “E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.”
Após o dilúvio, pela escassez destes alimentos, permitiu-se ao homem a alimentação cárnea; porém, a Bíblia é bastante clara na distinção entre animais próprios para a alimentação e impróprios para este mister, de conformidade com Levítico 11. Neste capítulo notaremos uma classificação de alimentos aprovados por Deus, isto é, alimentos puros, e também uma série de alimentos considerados imundos. Esta classificação é divina, transmitida a Moisés, para que por seu intermédio o povo de Israel a praticasse e posteriormente todos os que pautassem a sua vida pelos princípios da Palavra de Deus. Como Adventistas do Sétimo Dia, ou israelitas modernos, cremos que esta classificação perdura, basta para isto aceitarmos o propósito divino ao fazer esta distinção e considerarmos a Bíblia como um todo inspirada por Deus.
O contexto geral do capítulo sete de Marcos nos mostra que Jesus não está interessado em falar se esta ou aquela comida é pura ou imunda, mas em ensinar ao povo judeu e a nós como igreja cristã que o essencial é aceitarmos a Bíblia e não o que dizem os homens em suas doutrinas erradas.
O SDABC corrobora as afirmações anteriores ao declarar sobre Marcos 7:15 o seguinte: “Foi sempre, e exclusivamente contra preceitos de homens (v. 7) que Jesus protestou em aguda distinção do mandamento de Deus (v. 8), como se apresenta nas Escrituras. Aplicar os versos 15-23 ao caso de alimentos puros e impuros é ignorar completamente o contexto. Tivesse Jesus nessa ocasião eliminado a distinção entre as carnes limpas e imundas e seria óbvio que Pedro não teria, posteriormente, respondido como respondeu à idéia de comer alimentos impuros.”

“E Assim Considerou Ele Puros Todos os Alimentos”

Esta declaração de Marcos tem sido problemática para copistas, teólogos, exegetas e comentaristas:
Alguns têm declarado que esta afirmação do verso 19, em grego: kayarizon panta ta brwmatacatharidzon panta ta bromata não se encontrava no original de muitos manuscritos, sendo portanto um acréscimo posterior.
O renomado exegeta Bruce M. Metzger, com sua autoridade inquestionável, no livro A Textual Commentary on the Greek New Testament pág. 95 ao tecer considerações sobre este verso declara: o peso esmagador dos manuscritos nos convencem de que esta afirmação foi escrita por Marcos. Diante da dificuldade do verbo purificar, muitos copistas tentaram correções e melhorias. Metzger conclui: Muitos eruditos modernos, seguindo a interpretação sugerida por Orígenes e Crisóstomo consideram o verbo catharidzo, ligado gramaticalmente com “leguei” do verso 18 tomando assim o comentário do evangelista com as implicações das palavras de Jesus concernentes às leis dietéticas judaicas.
Esta mesma idéia é esposada pelo livro Consultoria Doutrinária da Casa Publicadora Brasileira, págs. 130 a 132, das quais destacamos:
“Nalgumas Bíblias a declaração final do versículo 19, parece fazer da instrução de Cristo, com o sentido de que o processo da digestão e eliminação tem o efeito de ‘purificar todos os alimentos’. O texto grego, porém, torna evidente que estas palavras não são de Cristo, mas sim de Marcos, e constituem seu comentário sobre o que Cristo queria dizer. Por conseguinte é necessário interpretar esta expressão sob o aspecto das palavras ‘Então lhes disse’, do versículo 18. Destarte a última frase do versículo 19 rezaria assim:’(Então lhes disse isto), purificando todos os alimentos’ ou ‘considerando puros todos os alimentos’ – a saber, sem levar em consideração se a pessoa que comia realizara ou não a ablução cerimonial preceituada, Era essa a questão em debate (verso 2).
“Em segundo lugar, convém notar que a palavra grega bromata, traduzida por alimentos, significa simplesmente ‘o que se come’, e inclui todas as espécies de alimentos; jamais distingue a carne dos animais de outras espécies de alimentos. Restringir as palavras ‘considerou puros todos os alimentos’ aos alimentos cárneos e inferir que Cristo aboliu a distinção entre as carnes limpas e imundas usadas como alimento (ver Lev. 11), é desconhecer completamente o sentido do texto grego.
“Percebe-se, pois, que o versículo 19 não foi acrescentado, mas que a expressão final deste versículo não foi usada por Cristo, e sim, por Marcos, para indicar que a cerimônia de lavar as mãos várias vezes antes de comer – não por limpeza, mas por formalidade – nada tinha que ver com a salvação. Isto, no entanto, não quer dizer que se deva comer com as mãos sujas, ou que se possam usar todas e quaisquer carnes de animais, mesmo dos que foram proibidos em Lev. 11.”
Outra autoridade, não menos destacada, Marvin R. Vincent, em Word Studies in the New Testament, vol. l, pág. 201, afirma sobre Marcos 7:19:
“Cristo estava enfatizando a verdade de que toda contaminação vem de dentro. Isto era em face das distinções rabínicas entre alimentos limpos e imundos. Cristo declara que a impureza levítica, como o comer sem lavar as mãos, é de pouca importância quando comparada com a impureza moral. Pedro ainda sob a influência dos antigos conceitos, não consegue entender a declaração e pede uma explicação (Mat. 15:15), que Cristo dá nos versos 18-20. As palavras ‘purificando todos os alimentos’, não são de Cristo, mas do evangelho, explicando o significado das palavras de Cristo; a Versão Revisada do Novo Testamento, portanto, traduz corretamente ‘isto ele disse (em itálico), tornando limpos todos os alimentos.’
“Esta era a interpretação de Crisóstomo, que diz em sua homília sobre Mateus: ‘Porém, Marcos diz que ele disse estas coisas tornando puros todos os alimentos.’ Canon Farrar refere-se a uma passagem citada de Gregório Taumaturgo: ‘E o Salvador, que purifica todos os alimentos diz’ . . .”

Conclusão

Nada melhor do que concluir este trabalho, com as oportunas palavras de J. C. Ryle, em seu Comentário Expositiva do Evangelho Segundo Marcos, ao tecer considerações sobre o capítulo sete de Marcos:
“Devemos pedir diariamente o ensino do Espírito Santo, se quisermos adiantar-nos no conhecimento das coisas divinas. Sem o Espírito Santo a inteligência mais robusta e o raciocínio mais vigoroso pouco nos farão adiantar. Na leitura da Bíblia e na atenção que prestamos à pregação da Palavra, tudo depende do espírito com que lemos e ouvimos.
Extraído da Apostila Explicação de Textos Difíceis da Bíblia de Pedro Apolinário.

Jesus: Filho de Deus e Filho do Homem


A Bíblia pode ser lida com várias finalidades. Alguns a lêem com o objetivo de descobrir contradições, para assim refutar suas verdades. Outros a lêem como sendo a palavra de Deus, a revelação da vontade divina, aceitando que se Seu autor é infinitamente sábio e imutável, tudo o que ela nos revela está certo e visa a nossa salvação.
Deus, em Seu infinito amor á humanidade, ensinou as mesmas verdades de maneiras diferentes, para que nós, limitados, pudéssemos entendê-las adequadamente.
Vários vocábulos bíblicos, que identificam a Jesus nos seus diversos aspectos como um Ser divino e em Sua relação para com o homem, têm sido usados por pessoas não orientadas pelo Espírito Santo, como prova de que Ele é dependente de Deus, subordinado a Ele, como se fosse possível separar estes dois seres como distintos e tendo objetivos diferentes.
Quando a Bíblia chama a Jesus “o primogênito da criação de Deus” e “o princípio da criação de Deus”, querem considerá-lo como a primeira coisa criada por Deus. Quando a Bíblia O chama “o Unigênito Filho de Deus”, vêem nestas palavras defesa para a sua idéia de que Cristo é o único gerado para ser Seu Filho.
Outros vocábulos empregados na Bíblia têm sido usados com a finalidade de apoucar a pessoa de Cristo colocando-O abaixo de Deus.
A palavra Filho, estudada nesta pesquisa, é também uma das muitas que são mal interpretadas. Se Jesus era Filho de Deus, então não há dúvida que Ele é inferior ao Pai, Ele procede do Pai, portanto não é igual a Deus.
Para a boa compreensão do assunto que estamos estudando é necessário primeiro analisar o verdadeiro sentido da palavra “Filho” na Bíblia.
No Velho Testamento a palavra Filho é o mais comum termo de relação; ali ela aparece cerca de 4.850 vezes. A palavra hebraica para filho (ben) é também usada como um termo de associação, como para jovens, estudantes ou ouvintes, para quem aquele que fala permanece como pai, ou expressa o fato de que aquele que fala para um subordinado o considera como filho.
Em geral entre os hebreus, o termo “filho” indicava semelhança a seu pai ou o direito de participação naquilo de que alguém é considerado filho.
Mat. 8:12 – “Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes.”
Ainda mais, é bom saber que faz parte do gênio da língua hebraica, substituir o adjetivo por um substantivo e que os autores do Novo Testamento conservaram esta particularidade de estilo. Assim compreenderemos bem que as expressões “filhos da paz, filhos da desobediência, filhos da luz”, corresponderiam a pessoas pacificas, desobedientes e iluminadas, sendo uso dos hebreus chamar filho de um vicio ou de uma virtude a quem tivesse aquele vicio ou esta virtude. Em Efésios 2:3 a expressão “filhos da ira” significa aqueles que pela sua maldade estão expostos à ira divina contra o pecado.
O livro The Christology of the New Testament de Oscar Cullmann, pág. 138, declara o seguinte:
“O aramaico bar (filho) é muito freqüentemente usado em um sentido figurado. Para ‘mentiroso’ o idiomatismo hebraico é ‘filho da mentira’; pecadores são ‘filhos do pecado’; um homem rico é ‘filho da riqueza’.”
A palavra hebraica para filho (ben; aramaico bar) tem sentido muito mais amplo do que nas línguas modernas como nos diz o Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Editora Vozes Ltda., pág. 577.
As pesquisas feitas nos revelam ser um termo de múltiplos significados no Velho Testamento, sendo os mais comuns:
1º) Um neto – II Reis 9:20. Jeú era filho de Josafá e neto de Ninsi.
2º) Uma bondosa maneira de um senhor idoso dirigir-se a um jovem amigo, estudante ou companheiro. l Sam. 26:17, 21 e 25.
3º) Possuidor de uma qualidade, como filho da paz. Luc. 10:6.
4º) Seguidor da fé, como em filhos de Deus. Gên. 6:2.
5º) Seres celestiais, criados por Deus, evidentemente anjos. Jó1: 6.
6º) Produto do nascimento espiritual, ou adoção; cristãos tornam-se filhos e filhas de Deus através da fé. Rom. 8:14, 15 e 23.
7º) Um descendente. Por isso Jesus é chamado Filho de Davi.
8º) Pertencente a determinada classe – os filhos dos profetas. l Reis 20:35; Amós 7:14.
Uma vez que o termo apresenta tão amplos significados na Bíblia, é preciso atentar bem para o contexto e para os princípios hermenêuticos, ao ser ele usado com referência a Cristo, para não o considerarmos literalmente, podendo chegar a interpretações errôneas. Por esta amplitude de significados para os hebreus, não podemos limitar o seu significado à relação de genitor como é comum na língua portuguesa.
Que significam as expressões – Filho de Deus e Filho do homem em relação a Jesus Cristo?
Filho de Deus
A única passagem do Velho Testamento onde o termo é encontrado é em Dan. 3:25, quando o rei Nabucodonosor viu um semelhante ao Filho de Deus (como está na Septuaginta) na fornalha ardente. Outras vezes é encontrado o termo filho, mas aplicado aos homens como filhos de Deus, o que aconteceu com Davi.
Nos Evangelhos Sinóticos Jesus nunca chama a si mesmo “Filho de Deus”, mas em João isso acontece seis vezes.
O uso da expressão “Filho de Deus” aparece 11 vezes em Mateus;  7 vezes em Marcos; 9 vezes em Lucas; 2 vezes em Atos; 17 vezes nos escritos de João e 18 vezes nos de Paulo. Um total de 64 vezes em o NT.
“Sem dúvida alguma, a comunidade primitiva ao designar a Jesus como Filho de Deus queria com ela expressar sua crença na efetiva divindade de Jesus”. – Enciclapedia de la Biblia.
Há evidências bíblicas de que expressavam tal crença em uma fórmula de profissão de fé, como em Rom. 1:3 e 4.
Jesus foi chamado por Deus como Seu Filho, o que ocorreu por ocasião do Seu batismo e no Monte da Transfiguração. Filho de Deus nestas passagens sugere não somente o Messias, mas também o Senhor de II Coríntios 3:7 a 4:6 em cujas faces a glória de Deus brilhou, não temporariamente, como na face de Moisés, mas permanentemente. João 17:5 – “e agora, glorifica-Me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que Eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo”.
Marcos usa o título Filho de Deus como sua designação favorita para Jesus, o que pode ser notado logo no seu primeiro verso. Marcos 1:1 – “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.”
Em contraste com Marcos (1:10-11), que pode ser entendido como ensinando que Jesus se tornou Filho de Deus por ocasião de Seu batismo, Lucas diz que Ele é o Filho de Deus logo no Seu Nascimento, mesmo considerando que sua investidura com a dignidade messiânica possa ocorrer mais tarde.
A doutrina das Escrituras, universalmente aceita pela igreja cristã, inclui os seguintes aspectos:
1º) Cristo é o Filho eterno como o Pai é o Pai Eterno. Tanto Cristo como os apóstolos falam de seu estado preexistente.
2º) O Filho é no mais completo sentido participante da mesma natureza que o Pai. Possui os mesmos atributos, realiza as mesmas obras e reclama honra igual ao Pai.
Aplicado a Jesus Cristo é um título que realça Sua divindade; enquanto o título “Filho do Homem” realça a Sua humanidade.
Como “Filho de Deus” Cristo está ligado ao Céu e participa desde a eternidade na natureza divina, como “Filho do homem” está ligado à humanidade, participando da natureza humana.
A prova máxima de que o título “Filho de Deus” indicava a natureza divina de Cristo nós a temos nos relatos seguintes:
Jesus ao declarar-se “Filho de Deus” gerou ódio nos judeus, que protestaram por Ele ter-se feito igual a Deus (João 5:18) e além disso ainda disse ser Ele o próprio Deus (João 10:33) o que era considerado uma blasfêmia para os judeus, pois consideravam a Jesus apenas como homem comum.
Quando Jesus estava perante o Sinédrio, o Sumo Sacerdote disse: “Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo o Filho de Deus. Respondeu-lhes Jesus: Eu o sou.” Este seu testemunho em se declarar o Filho de Deus levou os judeus a condená-Lo e crucificá-Lo. Mat. 26:63-66; Luc. 22:67-71.
Em Luc. 1:35 o anjo declara a verdadeira divindade de Jesus, todavia ele une aquela divindade à verdadeira humanidade. “O Ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus.”
Desta declaração se deduz que o anjo não deu o nome Filho de Deus para a natureza divina de Jesus, mas para a pessoa santa, que estava para nascer da virgem, pelo poder do Espírito Santo. A natureza divina não tem começo. Era Deus manifestado em carne – I Tim. 3:16; era o “Logos” que estando desde a eternidade com Deus, fez-Se carne e habitou entre nós – S. João 1:14. Eternidade é aquilo que não teve começo, nem permanece em nenhuma referência a tempo.
O apóstolo Paulo nos afiança que o próprio Deus se manifestou em Cristo – Col. 2: 9; sendo esta a mesma ênfase do quarto evangelho.
O evangelho de Marcos apresenta uma dupla Cristologia – Jesus Cristo é ao mesmo tempo o Filho de Deus e Filho do homem. A expressão “Filho de Deus” apresenta-O como participante da divina essência; ao passo que “Filho do homem” mostra a sua identificação com o homem, o verdadeiro representante do homem, identificando-se com o homem em todos os seus problemas, menos quanto ao pecado.
Pelo ensino do Novo Testamento concluímos o seguinte: para que Cristo conduzisse os homens a uma verdadeira e plena comunhão com Deus foi necessário que Ele fosse ao mesmo tempo verdadeiro homem e verdadeiro Deus.
Pelo exposto até aqui, conclui-se que esta expressão designa a natureza divina e exaltada do Salvador dos homens.
Filho do Homem
Esta expressão é usada 94 vezes no Novo Testamento, sendo empregada por Mateus, 32 vezes; Marcos, 14; Lucas, 26; João 12; Atos, 7; Heb. 1; e Apocalipse, 2; sempre pelo próprio Cristo, exceto em são João 12:34, Atos 7:56, Heb. 2:6 e Apoc. 1:13; 14:14.
Outras fontes mencionam 83 vezes referindo-se a Cristo.
Qual o seu exato significado? Em parte já foi explicado ao tratarmos da expressão “Filho de Deus”.
“Um termo para homem, ser humano; uma figura apocalíptica, no Novo Testamento, um título para Jesus”. – The Interpreter’s Dictionary of the Bible.
É uma expressão hebraica que significa uma posição humilde ou ausência de privilégios especiais.
“O contexto em que o termo filho é usado em João 1:51 (depois de 1:45); 3:13 (depois das objeções de Nicodemos) e 6:27, 33 (em relação com a recusa dos judeus de crerem em Jesus (parece indicar que para João, exatamente como os sinóticos, Jesus quis com esse termo acentuar propositadamente a sua natureza humana. Isso é confirmado por João 5: 27, onde o motivo por que Jesus é constituído Juiz do mundo é que ele é Filho, sem artigo, indicando-se portanto a natureza humana em geral, o que chama mais a atenção porque no contexto imediato trata-se de Jesus como Filho de Deus; juízo foi confiado ao Filho de Deus humanado, a fim de que os homens fossem julgados por alguém que pode compreender a sua fraqueza (confira Heb. 4:15)”. – Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Editora Vozes Ltda. Petrópolis, 1971, pág. 588.
Nos evangelhos sinóticos esta expressão com referência a Jesus divide-se em três classes:
1º) Aparece num grupo de passagens com referência à vida de Jesus aqui na terra. Mar. 2:10 e 26; Luc. 19:10.
2º) Neste grupo se refere aos sofrimentos e morte de Jesus. Mar. 8:31; 9:31; 14:21.
3º) Nesta classe a frase tem referência à segunda vinda de Cristo. Mat. 24:30; 25:31.
Pelo cotejo dos três grupos de passagens, vemos que a expressão é usada por Cristo em conexão com Sua missão, Sua morte e Sua ressurreição e ainda com Seu segundo advento.
Qual a Idéia de Jesus Quando Empregava a Frase em Questão?
Cremos que para Jesus o título era messiânico, indicando Aquele de quem os profetas tanto falaram e por quem o povo tanto esperava. Esta expressão era usada por Jesus para preparar o povo para a revelação clara de que Ele era o Messias.
“Ele não usava o título Messias para evitar complicações políticas, já que os israelitas esperavam um Messias político e dominador.” – The Interpreter’s Dictionary of the Bible, vol.4, pág.413.
O título designa-O como o Cristo encarnado e leva-nos para os milagres pelos quais a criatura e o Criador estavam unidos na pessoa divina – humano, divindade sendo identificada com a humanidade, a fim de que a humanidade pudesse se transferir de novo na imagem divina.
Quando usada por Nosso Senhor, era sem dúvida reminiscência de Daniel 7:13-14, onde o Filho do homem recebe o seu domínio eterno.
O título Filho do homem assegura-nos que o Filho de Deus, na verdade, veio viver na Terra como um homem entre os homens a fim de que Ele pudesse morrer por nós. “Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar Sua vida em resgate de muitos” Mar. 10:45.
 Conclusão
Para a nossa mente ocidental os termos “Pai” e “Filho”, sugerem por um lado a idéia de origem e superioridade, e por outro lado, a idéia de dependência e subordinação. Numa linguagem teológica, porém, eles são usados no sentido oriental ou semítico de igualdade com respeito à natureza (mesma natureza). Quando as Escrituras chamam a Jesus Cristo como o Filho de Deus, elas querem afirmar a verdadeira divindade de Cristo. Quando O denominam Filho do homem querem realçar a Sua humanidade.
Esta idéia é bastante clara nos conceitos emitidos pelos teólogos adventistas, como nos comprovam estas duas destacadas obras.
1ª) “O título acentua a realidade de Sua natureza humana, assim como o título semelhante, ‘Filho de Deus’ confirma sua divindade.” – Seventh-Day Adventist Bible Dictionary, by Siegfried H. Horne.
2ª) “O termo ‘Filho de Deus’ dá ênfase à identidade de Cristo com Deus, Sua natureza divina, e Sua íntima e pessoal relação com o Pai. O termo ‘Filho do Homem’ dá ênfase a Sua identidade com o homem, Sua natureza humana, e Sua íntima e pessoal relação com a humanidade.” – Problems in Bible Translation, publicação da Review and Herald, pág. 243.
Apesar destas declarações tão evidentes, antes de concluir é preciso acrescentar o seguinte:
“Tradicionalmente o título, Filho do homem, tem sido empregado para designar a humildade de Cristo para distinguir de Sua natureza divina. Certamente esta significação está envolvida, mas uma muito mais profunda significação emerge de um mais atento exame de seu uso.” “Com esta expressão Cristo reivindica sua natureza divina.” – The Zondervan – Pictorial Encyclopedia of the Bible, vol. V, pág. 485.
A obra The Christology of the New Testament de Oscar Cullman na página 162, nos informa:
“A Teologia clássica sempre contrastou Filho do Homem e Filho de Deus. Do ponto de vista do dogma posterior “verdadeiro Deus – verdadeiro homem”, entendeu-se a designação “Filho do Homem” apenas como uma expressão da “natureza humana” de Jesus em contraste com sua “natureza divina”. Nessa época os teólogos não estavam familiarizados com as especulações judaicas sobre a figura do Filho do Homem, e não levaram em consideração o fato de que por meio desse próprio termo Jesus falou de seu divino caráter celestial.”
Com efeito há passagens na Bíblia onde a expressão “Filho do Homem” é usada, que mais parecem indicar a sua divindade do que a humanidade.
Os exemplos mais frisantes parecem ser estes:
a) Mateus 24:30. “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e muita glória.”
b) Mateus 25:31. “Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então se assentará no trono de sua glória.”
c) S. João 3:13. “Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem.”
d) Lucas 5:24. “Mas, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados – disse ao paralítico: Levanta-te, toma o teu leito, e vai para casa.”
O Espírito de Profecia parece confirmar que o título “Filho do homem” designava também a divindade de Cristo.
“Deus adotou a natureza humana na pessoa de Seu Filho, levando a mesma ao mais alto céu. É o ‘Filho do homem’ que partilha do trono do Universo. É o ‘Filho do homem’, cujo nome será ‘Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz’.” – O Desejado de Todas as Nações, pág. 25.
As idéias seguintes do comentário de E.G. White sobre S. João 1:1, no SDABC, vol. 5, págs. 1126-1130 são oportunas sobre este assunto:
I. Natureza divina – humana
“Ele era Deus enquanto estava na Terra, mas despojou-se da forma de Deus, e em seu lugar tomou a forma e o estilo de um homem.
“Ele velou a Sua divindade com as vestes da humanidade, mas não se apartou da Sua divindade. Um Salvador divino-humano, Ele veio para estar na testa da raça caída, para partilhar da sua experiência desde a meninice até a varonilidade.
“As duas expressões ‘humano’ e ‘divino’ estavam em Cristo, intimamente e inseparavelmente unidas e no entanto elas tinham uma individualidade distinta.
“Cristo não nos deu a impressão que tomou a natureza humana; em verdade Ele a tomou”.
II. Cuidado ao tratar com a natureza humana de Cristo
“Seja cuidadoso, excessivamente cuidadoso ao demorar-se sobre a natureza humana de Cristo. Não O apresente diante do povo como um homem com propensão para o pecado. Ele é o segundo Adão. O primeiro Adão foi criado um ser puro e sem pecado, sem uma nódoa de pecado sobre si, ele era a imagem de Deus. Ele podia cair, e ele caiu pela transgressão. Por causa do pecado sua posteridade nasceu com propensões inerentes da desobediência. Mas Jesus Cristo foi o Unigênito Filho de Deus. Ele tomou sobre si a natureza humana, e foi tentado em todos os pontos como a natureza humana é tentada. Ele podia ter pecado, podia ter caído, mas em nenhum momento houve nEle uma propensão má.”
“Quando Cristo foi crucificado, foi Sua natureza humana que morreu. A divindade não morreu, isso teria sido impossível.” – SDABC, vol. V. pág. 1113.
Nota: Este capítulo recebeu orientação especialmente das seguintes fontes:
¨ El Nuevo Testamento Comentado – William Barclay.
¨ Bible Commentary – Beacon Commentary and Critical Notes de Adam Clarke.
¨ Enciclopedia de la Biblia.
¨ O Novo Dicionário da Bíblia.
¨ Seventh-Day Adventist Bible Commentary e Dictionary.
¨ The Interpreter’s Bible.
¨ The Interpreter’s Dictionary of the Bible.
¨ Teologia Bíblica de A. B. Langston.
¨ The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible.
¨ Dicionário Enciclopédico da Bíblia.
Texto de autoria de Pedro Apolinário, extraído da apostila Explicação de Textos Difíceis da Bíblia.

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