quinta-feira, 24 de março de 2016

Examinais ou Examinai as Escrituras? Uma Crítica ou uma Ordem? – João 5:39


“Examinais (ou examinai) as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam”.

Por que razão algumas traduções da Bíblia apresentam o verbo examinar em João 5:39 no modo indicativo e outras no imperativo?

Seriam ambas as traduções igualmente corretas? Ou seria uma melhor do que a outra?

O problema com esta passagem encontra-se no seguinte: as segundas pessoas do plural do presente do indicativo e do imperativo são idênticas em grego, portanto, o original “ereunate” pode ser traduzido por examinais ou examinai. Diante deste impasse, a única maneira segura de solucionar o problema é o estudo do contexto.

Comentários

As traduções de Almeida Revista e Corrigida, e Almeida Atualizada no Brasil, bem como a Bíblia de Jerusalém apresentam examinais, mas a Atualizada e a Bíblia de Jerusalém trazem uma nota ao pé da página indicando ser possível também traduzir o verbo no modo imperativo examinai.

Após a leitura da exposição de comentaristas e exegetas, que se seguem, você estará em condições de responder com mais autoridade sobre esta declaração de Cristo:

“Examinai as Escrituras. Esta passagem pode ser traduzida ou como uma simples declaração ‘Vós examinais as Escrituras’, ou como uma ordem ‘Examinai as Escrituras’. O contexto parece indicar que estas palavras são mais bem compreendidas como uma franca declaração de Cristo aos judeus: “Vós examinais…”. Era um antigo pensamento judeu que o conhecimento da lei asseguraria ao homem a vida eterna. Afirmam que Hillel, um rabino do 1º século a.C., havia declarado: ‘aquele que adquiriu para si as palavras da Torá, adquiriu para si mesmo a vida do mundo por vir’. Jesus aqui faz uso desta crença para lembrar aos judeus que as Escrituras nas quais eles pensavam encontrar a vida eterna eram os escritos que testificavam dEle (veja Patriarcas e Profetas, 367). Esta passagem tem também sido usada efetivamente como uma injunção para estudar as Escrituras (veja Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 121). Tivessem os judeus pesquisado as Escrituras com os olhos da fé, eles teriam sido preparados para reconhecer o Messias quando Ele estivesse entre eles” (Comentário Bíblico Adventista, referente João 5:39).

“Orígenes e Tertuliano advogam o uso imperativo aqui, portanto, a nossa exortação familiar ‘Examinai as Escrituras’ remonta pelo menos ao fim do segundo século. Este mesmo comentário, porém, opina que é melhor traduzir pelo indicativo – examinais, e interpreta: ‘Vós examinais a Escritura por causa da vossa crença errada de que essa minuciosa pesquisa de palavras e sílabas nos livros sagrados vos assegure a vida no porvir. Estais errados. O valor das Escrituras é que testemunham de Mim. E estais duplamente errados porque não vindes para Mim pessoalmente, quando Eu vos concedo a oportunidade’” (William Carey Taylor, O Evangelho de João, vol. 2, pág. 171).

“Todos os antigos exegetas, com exceção de Ciril, lêem no modo imperativo. Mais recentemente é que um bom número tem considerado no indicativo. A questão é unicamente de contexto, desde que nenhuma outra evidência está disponível. Mas, o certo é que o imperativo se ajusta à situação total, enquanto que o indicativo requer modificações, que não temos o direito de fazer. Jesus disse aos judeus: ‘Aqui está o Meu testemunho, examinai-o’” (R. C. H. Lenski, The Interpretation of St. John’s Gospel, pág. 413).

“A forma do verbo pode ser indicativa ou imperativa; o contexto mostra que o indicativo foi a forma usada. Somente esta interpretação faz sentido com “ereunate”, que segue, e com o contexto total” (C. K. Barrett, The Gospel According to St. John, pág. 222).

“Examinais as Escrituras. Estudaram as Escrituras pensando que a obediência mecânica aos preceitos da lei lhes daria o galardão da vida eterna. Não estavam errados em estudar as Escrituras na esperança de encontrar a vida eterna, mas sua interpretação delas estava totalmente errada, e não podiam encontrar o Cristo, que é o centro das Escrituras” (Edições Vida Nova, O Novo Comentário da Bíblia, pág. 1075).

“Não há maneira (com base na gramática grega ou na estrutura das sentenças do versículo) de averiguar com certeza se a palavra examinais é a tradução correta aqui, pois no grego pode ser tanto o indicativo, o que significaria costumais examinar, indicando uma ação contínua, ou, então, pode ser o imperativo, o que seria ‘examinai as Escrituras‘, como se fora uma ordem. Segundo a gramática grega pode ser uma coisa ou outra e há uma longa lista de nomes de intérpretes que têm defendido ambos os lados da questão. Porém, como quer que compreendamos a sentença, o sentido do versículo em nada é afetado. Parece mais provável que a tradução da Almeida Atualizada está correta aqui, ao traduzir a frase com o verbo no modo indicativo, o que descreve a febril atividade do estudo das Escrituras do Antigo Testamento, por parte do povo de Israel, e, mais especialmente ainda, pelas suas autoridades religiosas, para quem o conhecimento das Escrituras era motivo de intensa ufania…

“Os rabinos costumavam dizer: ‘Aquele que adquire as palavras da lei, adquire para si mesmo a vida eterna'” (Russell Norman Champlin, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 2, págs. 350-351).

“Este verso deve ser traduzido não no modo imperativo, mas no indicativo. Assim: ‘Examinais diligentemente as Escrituras’. É sobejamente conhecido que estas palavras são comumente traduzidas no imperativo; mas tal tradução não se ajusta de maneira alguma ao verso seguinte, e a força e intensidade das palavras também não pode ser percebida por esta versão” (Adam Clarke, Clarke’s Commentary, vol. 5, pág. 554).

Conclusão

A estrutura da frase em grego nos leva a concluir que a única tradução correta é examinais. Se fosse imperativo, a oração subordinada seria: para que tenhais ou a fim de terdes vida eterna.

O plano da salvação apresentado na Bíblia jamais admitiria que Cristo ensinasse que a vida eterna possa ser adquirida pelo diligente estudo das Escrituras.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

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