terça-feira, 17 de novembro de 2015

A teoria do Big Bang e o Vácuo Quântico



Com relação à origem do Big Bang e o surgimento do universo a partir do nada, consideremos como base as premissas do Argumento Cosmológico Kalam(Caso você ainda não conheça o argumento, leia a primeira postagem do blog, pois é importante entendermos o conceito filosófico que estamos lidando com relação à criação do universo, bem como também é preciso analisá-lo, para então, considerarmos o Kalam como um modelo padrão básico de refutação).

(P1) Premissa nº1: Tudo que começa a existir tem uma causa.

(P2) Premissa nº2: O Universo começou a existir.

(P3) Premissa nº3: O Universo tem uma causa.

Perceba que o argumento é dedutivamente válido, com o termo médio bem distribuído. Logo, para alguém declarar que esse é um bom argumento, justificadamente, basta que seja racional acreditar, pois, nas duas afirmações (P1) e (P2) que o constituem. E se essa pessoa estiver certa em sua afirmação, a racionalidade da conclusão segue de forma lógica e necessária. Qual é a maneira correta de se analisar justificativa e racionalidade? Simples: uma pessoa é irracional se ela estiver em falta com alguma obrigação epistêmica a qual ela está intelectualmente vinculada. Um dever epistêmico comumente aceito é de formar uma conclusão a partir de uma hipótese mais simples ou da melhor explicação para um determinado fato.

O modelo no qual o Argumento Cosmológico atual trabalha é o modelo Friedmann–Lemaître (que veio a ser conhecido como modelo “Big Bang” de forma popular) que não descreve um Universo eterno no passado, mas sim um que começou a existir a um tempo finito atrás, o que foi confirmado através da radiação cósmica de fundo em micro-ondas. Mais do que isso, sua origem postula uma origem absolutamente ex nihilo em termos físicos, pois não só toda matéria e energia mas o próprio tempo e espaço passaram a existir na singularidade cósmica inicial. Espaço e tempo começam na singularidade inicial cosmológica. Antes disto, literalmente nada físico existia. A objeção que alguns ateus apresentam nesse ponto é a sugestão da singularidade como uma espécie de bolinha super densa que estava descansando desde a eternidade e que de repente explodiu. Perceba que, mesmo assim, há um tempo finito. Mas a objeção é falsa. A singularidade é o PONTO inicial do Universo.

A singularidade cosmológica em que nosso universo teve início não é, estritamente falando, parte do espaço e do tempo, e, portanto, não é anterior ao universo; antes, é a fronteira de espaço e tempo. A singularidade é causalmente anterior ao nosso universo, mas não é cronologicamente anterior ao universo. Ela existe na fronteira de espaço-tempo.



Portanto, a sugestão da criação fisicamente ex nihilo é feita no sentido de que antes desse ponto surgir absolutamente nada em termos físicos (de matéria, energia, espaço e tempo) existia. A nossa verdadeira questão é o porquê da singularidade, em outras palavras, o “espaço-tempo” começou a existir. Então eu te pergunto: Qual obrigação epistêmica ele está infringindo ao acreditar nesse modelo físico? É difícil dizer qual. Parece perfeitamente sensível e aceitável para qualquer pessoa acreditar no Big Bang na falta de objeções cogentes contra ele, não mais do que é aceitável para alguém acreditar na Teoria da Evolução ou na própria Teoria da Física Quântica. Se você citar outro modelo de teoria e, consequentemente, nos colocar em posição irracional devido a nossa aceitação à teoria do Big Bang, novamente, essa objeção falharia. Todas essas teorias são teorias científicas e precisam ser falseadas EMPIRICAMENTE. Não há nenhuma evidência empírica cogente para as outras teorias (como a Teoria M, das supercordas, infinitos universos em expansão, etc). É verdade que no futuro algumas dessas teorias pode se provar correta, assim como, no futuro, fósseis que indiquem um designer inteligente podem ser descobertos. Nem por isso significa que, no momento atual, alguém está em estado de irracionalidade ao aceitar o modelo do Big Bang ou a Teoria da Evolução padrão sem nenhum designer.

Então, se o ateísta quiser derrubar um teísta nesse ponto, deverá demonstrar que o teísta é irracional ao aceitar o modelo como é descrito acima. Esse é o quadro geral dentro do qual temos que conversar. E a partir daí surge a objeção baseada na física quântica. Pode algo vir do nada? Se não existia nada físico, então temos apenas duas opções:


1- O Universo emergiu de alguma substância não-física, de natureza ontológica, que existia naquele estado.

2- O Universo surgiu a partir de absolutamente nada. E É ESSE o maior erro dos ateus! O nada não é material e o nada também não é imaterial, o nada simplesmente não é. O nada absoluto é justamente aquilo que não tem NENHUM predicado positivo. Justamente por isso ele não é algo ontológico.


Muitas vezes os ateus surgem falando que “o Universo surgiu do nada” sugerindo que ele surgiu do vácuo quântico. O que vocês falham em perceber é que o vácuo quântico é um ente cheio de características, ou seja, ele não é um "nada", mas um mar de energia flutuante dotada de uma rica estrutura e sujeita a leis físicas de diversas espécies. O próprio fato do vácuo quântico ser estudado pela Ciência demonstra que ele tem um caráter ontológico, pois assim como a Ciência não pode estudar o "não-cachorro" ou "não-humano", ela não pode estudar o "não-ser". Nesse caso, absolutamente coisa alguma positiva poderia se falar dele. Só poderíamos negar as suas características. Essa é a verdadeira definição do nada. No momento em que os ateus começam a dizer que, por exemplo, a lei da gravidade criou o Universo, eles estarão admitindo que alguma substância ontológica é o estado do qual emergiu o Universo, só discordando qual é a natureza dessa substância. Igualar “Lei da Gravidade” ou “Vácuo Quântico” com “Nada” seria simplesmente uma tolice. Explicado esse erro, e entendido o que é o nada, vamos agora argumentar contra a criação a partir do nada partindo de três objeções:

1- Se o nada criou algo, então ele tem pelo menos uma propriedade positiva: A de ser a substância que deu origem a um outro estado de coisas. E agora? Mas se ele deu origem, é a explicação ou razão, a um estado de coisas seguinte então ele tem pelo menos uma característica, que é justamente essa. Nesse caso, ele seria um ser, algo ontológico, e não seria o nada, que é justamente aquilo que nega qualquer predicado do ser. Então qualquer coisa que seja a explicação ou razão para algo posterior não pode ser o nada, sob pena de cairmos em auto-contradição e absurdo com a sua própria definição.

2- Se não existia nenhuma entidade ontológica, e o nada não criou o Universo, significa que o PRÓPRIO Universo, que não existia, é o responsável por sua passagem à existência. Mas essa visão é logicamente incoerente. Para o Universo ser sua causa, ele deve ser ou logicamente ou temporalmente anterior a si mesmo. Mas obviamente é impossível que algo seja anterior a si mesmo, pois nesse caso ele já existiria. Logo, a auto-criação é impossível. Demonstrado isso, o absurdo de falar do nada criador fica explícito.

3- Ateus dizem: "Mas a física quântica não nos ensina que as coisas podem surgir do nada?" NÃO! Sem falar na discussão se essas partículas virtuais realmente existem, essa objeção é baseada em uma confusão filosófica. Como eu já expliquei anteriormente, nós não podemos atribuir o estado de “surgir do nada” nesses casos. O vácuo quântico não é um "nada", mas um mar de energia estruturado e sujeito às leis da física. Dizer que as partículas virtuais surgem do nada no meio do Universo é simplesmente BIZARRO, pois se elas surgem dentro do Universo elas surgem dentro do ser. O que o você quer dizer, na verdade, é que essas partículas deveriam surgir sem uma causa específica ou "aleatoriamente", mas não a partir do “nada”. Mas na verdade o que existe na Física Quântica é o princípio do Indeterminismo, pelo qual não conseguimos saber ou prever de forma “fixa” os comportamentos das partículas, pela alteração do observador. E o fato dos seres humanos não terem uma barreira epistemológica para encontrar uma causa para um determinado evento não significa que ele tenha surgido aleatoriamente. O que existe a partir daí são interpretações "indeterministas" ou deterministas desses dados.

Conclusão e considerações finais:

Após analisarmos a objeção quântica mais a fundo, fica evidente que o Universo não surgiu do nada, o que nos dá base e boas razões para acreditar que a causa do universo, como ela se mostra através da ciência, seja Deus, sendo assim, perfeitamente racional chamá-la desta forma. Dito isso tudo, as objeção quânticas ao Big Bang estão devidamente neutralizadas.

Referências: SnowBall; W.L. Craig; Alvin Plantinga.
Via Razão em Questão

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