sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Como a pornografia cria o “cliente”




Atores do filme Uma Linda Mulher

Hoje eu quero falar sobre a construção social da masculinidade, especificamente da construção social do cliente. Vamos partir do princípio de que homens não “são assim mesmo”. Na verdade, são socializados para serem clientes, estupradores, agressores de mulheres e cafetões. Mas o que temos que entender e nos perguntar é: De onde vem isso? O que faz um homem chegar ao ponto de pagar por sexo com uma mulher que ele nunca viu na vida? Uma mulher que ele sabe muito bem que prefere estar em qualquer lugar do que ali e que provavelmente está nessa situação por ter sido abusada sexualmente, por ser pobre e estar desesperada. Um dos fatores – não o único – mas um fator-chave que leva os homens a procurarem prostitutas é a pornografia. A pornografia é a principal fonte de “educação sexual” nos dias de hoje; não há nada mais poderoso como educação sexual do que ela, e vou falar de como a pornografia, a mídia e a cultura pop criam os clientes. Mas como a mídia e a cultura pop fazem isso? Glamourizando a prostituição e ignorando, polindo e reabilitando clientes. Vamos começar lembrando do filme Uma Linda Mulher. 

Pense na história: um cliente que se apaixona pela prostituta e eles vivem felizes para sempre. Todos concordam que foi um sucesso, não? Faturou milhões. Bilhões, provavelmente. E o que Hollywood faz sempre que um filme fatura milhões? Faz de novo, faz a parte 2. Minha pergunta é: Cadê Uma Linda Mulher 2?  Vamos imaginar como seria: eles fazem um lindo casamento entre a prostituta e o cliente e eles vão viver em uma linda casa. E um dia eles brigam, e então do que ele vai xingá-la? “Sua p...!”
“Sua p... imunda!” “Não discuta comigo porque, senão, adivinha, te jogo de volta na rua de onde você veio!” Me responda uma coisa: Quantas prostitutas você acha que vivem felizes para sempre com seus clientes? Está vendo por que eles não podiam fazer Uma Linda Mulher 2?

Mulheres foram assistir a isso, não foram? E todo mundo amou, certo? Esse é um sinal de quanto as mulheres estão colonizadas, de como o patriarcado está nas nossas mentes e molda quem somos.

Outra pergunta: Que ator estrela de Hollywood bateu tanto em uma mulher que ela acabou no hospital e o processou? Saiu em todos os jornais britânicos, mas nos EUA nem uma palavra: Jack Nicholson.[1] Se você não acredita em mim, existe um laudo que está no processo feito pela prostituta. E o laudo diz como ele bateu e jogou ela de cabeça no chão porque não queria pagar pelo programa depois de ter feito sexo com ela e outra mulher. Viu como a mídia colabora com o silêncio para manter isso invisível? E naquele mesmo ano, depois disso ter acontecido, ele estava na primeira fila do Oscar e ninguém tocou no assunto.

Conhece Eliot Spitzer, o cliente mais famoso dos Estados Unidos?[2] Sabe o que ele era antes de ser desmascarado como um cliente? Governador de Nova York. Antes de ser pego gastando 10.000 dólares por mês com prostitutas, sabe o que ele estava prestes a lançar? Uma campanha anti-prostituição. Ele era tão violento como cliente que era difícil achar prostitutas que aceitassem sair com ele. Ainda descobriram que ele traficava mulheres de um estado para outro. Ele foi “reabilitado” e agora tem um programa de TV. E sua esposa o apoia.

Mas o que leva homens como Charlie Sheen, Tiger Woods, Eliot Spitzer, Hugh Grant, Jerry Springer e Eddie Murphy a se tornarem clientes? Vamos analisar uma das forças sociais que constroem a masculinidade: a pornografia.

1. É a legitimação cultural da compra e venda de mulheres.
2. É a prostituição filmada: mulheres sendo pagas para fazer sexo. A diferença entre prostituição e pornografia é que você pode continuar vendendo a mulher quantas vezes quiser, mesmo depois de morta você pode vender sua imagem várias e várias vezes. Não existe limitação física das mulheres na pornografia, pois o sexo prostituído está gravado.
3. É a representação visual do sexo prostituído.
4. É o uso de mulheres traficadas sexualmente.
5. É criadora de demanda.

Vou explicar como ela cria a demanda explicando como a indústria pornográfica funciona. Sempre que falo sobre pornografia, me dizem que ela sempre existiu, e eu concordo com isso. Desde o início dos tempos, sempre existiu pornografia. Mas o que eu quero falar é sobre a indústria pornográfica.

A industrialização do sexo

É necessário conhecer e entender a indústria pornográfica para mudar a visão que temos sobre o assunto. A indústria pornográfica começou em 1953 com a primeira edição da Playboy. Nunca antes na história uma revista pornográfica tinha circulado pelo mainstream do capitalismo. É por isso que temos que pensar nisso como uma indústria. Temos que analisar como um plano de negócios de um pequeno grupo de administradores de empresas pensando em como criar demanda e construir mercado.

É difícil ter estatísticas exatas, mas é uma indústria que movimenta aproximadamente 97 bilhões de dólares no mundo todo. E lembre-se de que 97 bilhões de dólares compram muitos políticos na América. O montante de dinheiro que os pornógrafos investiram para o desenvolvimento da internet foi crucial para a sua criação. A internet não comanda a pornografia, a pornografia comanda a internet:

- 37% da internet é pornografia.
- Existem mais de 26 milhões de sites pornôs.
- A indústria pornográfica fatura 3.000 dólares por segundo.
- 40 milhões de usuários consomem pornografia regularmente nos EUA.
- Uma a cada quatro buscas do Google são por pornografia.
- Mais de um terço de todos os downloads feitos são pornografia.
- A cada ano são lançados mais de 13.000 filmes pornôs.

Numa conferência recente, os pornógrafos anunciaram que estão investindo em desenvolvimento de celulares, pois em países em desenvolvimento muitas famílias têm apenas um computador em casa e os homens não conseguem baixar pornografia no meio da sala. Já com um celular, os homens podem achar um lugar sozinhos para assistir pornografia. E onde a pornografia chega, o tráfico de mulheres e a prostituição vão atrás.

Esse é o nível de pesquisa que eles fazem para entrar em países superpopulosos. “A ‘corporatização’ da pornografia não é algo que acontece ou que vai acontecer, é algo que já aconteceu – e se você ainda não se ligou nesse fato, não há mais lugar nessa mesa para você. É Las Vegas acontecendo de novo: os independentes, mafiosos renegados e empreendedores visionários sendo varridos pelas grandes corporações” (Adult Video News, 2009).

Pornografia não é um amontoado de imagens aleatórias, não é fantasia – fantasia acontece na cabeça, pornografia acontece nos bancos internacionais do capitalismo. Dois lugares completamente diferentes. O que significa fazer parte da indústria pornográfica hoje:

- Aumentar o capital.
- Contratar gerentes e contadores.
- Fazer fusões e aquisições.
- Fazer exposições comerciais.
- Fazer negócios com outras empresas (bancos, empresas de cartão de crédito, operadoras de TV a cabo, etc.).

Cada vez que um homem compra pornografia, isso vai para um cartão de crédito. Agora imagine quanto dinheiro as empresas de cartão de crédito ganham com isso. Agora pense nas conexões entre a mídia mainstream e a pornografia. Um exemplo de como essa conexão funciona são as RealDolls, mulheres de silicone “anatomicamente corretas”, cuja lista de espera para comprar é de seis meses. Todos os anos em Las Vegas acontece uma convenção pornô. Eu fui lá e entrevistei o cara que estava no estande da RealDolls e perguntei: “Por que você acha que os homens compram essas bonecas?” Ele me olhou direto nos olhos e disse: “Isso os ajuda a desenvolver relacionamentos com mulheres.” Ok. Então perguntei: “Você já assistiu ao filme A Garota Ideal (Lars and the real girl)? Sabe, o filme em que um cara se apaixona por uma boneca? Estrelando Ryan Gosling, uma grande estrela de Hollywood.” Ele me respondeu: “Se eu já assisti? Nós fomos os consultores do filme e no dia do lançamento nosso site caiu de tanto que os homens acessaram.”

Quando lidamos com a indústria pornográfica, estamos lidando com um poder cultural, social e político que tem a capacidade de definir o panorama sexual, pois trabalha como qualquer outra indústria. Concordamos que a indústria de alimentos molda a maneira como comemos, que a indústria da moda molda a maneira como nos vestimos, então como é possível que a indústria do sexo seja a única que não molda o comportamento humano? Se a indústria pornográfica não molda a maneira como nos comportamos, então tudo que sabemos sobre sociologia e psicologia está errado. Teríamos que concordar que todos nós nascemos com certa sexualidade e que ela se mantém intocada pela cultura, e sabemos que isso é impossível; sabemos que a sexualidade é construída pela cultura.

Quando falo em pornografia, que imagens vêm a sua cabeça? Revista Playboy? Pessoas fazendo sexo? A revista Playboy está falida e só sobrevive porque vende sua marca e investe em outras empresas mais hardcore sob outros nomes para manter sua marca “limpa”. A Penthhouse faliu e a Hustler se diversificou. [...]

É assim que a pornografia é hoje: não existe mais soft-porn (pornô leve) e hardcore (pornô pesado), o que existe é feature-porn (pornô “longa metragem”) e gonzo-porn (pornô “sem roteiros”). O soft-core não existe mais porque migrou para a cultura pop. O nível de hipersexualização das artistas pop atuais seria considerado soft-porn 15 anos atrás. Hoje olhamos para a mídia e ficamos dessensibilizados a um nível de hipersexualização que é totalmente novo. E por causa dessa hipersexualização da cultura pop a pornografia teve que ficar mais hardcore para se diferenciar da MTV, por exemplo.

Para a indústria, o feature-porn é o que eles chamam de “mercado para casais”. É um filme de uma hora e meia, música suave, às vezes tem história, mas o sexo é hardcore. Os homens costumam mostrar esses filmes para as namoradas para elas se acostumarem com sexo hardcore.

No documentário The price of pleasure (O preço do prazer), por exemplo, um rapaz fala sobre como ele quer apresentar sexo anal para sua namorada, mas não sabe como fazer. Então ele pega um filme feature-porn, que sempre tem sexo anal, e espera o momento certo para propor sexo anal a ela: o momento em que ela não fizer mais careta para as cenas. Ou seja, quando um homem sugere assistir um feature-porn com uma mulher, geralmente ele quer que ela se anime a fazer sexo hardcore com ele. Resumindo, é esse tipo de pornô que homens e mulheres costumam assistir juntos. Mas quando homens estão sozinhos, o que eles assistem mesmo é gonzo-porn (pornô “sem roteiros”): é assim que eles chamam o pornô pesado sem história nenhuma. O “pai” desse tipo de pornô é um homem chamado Max Hardcore. [...] Ele é um sádico sexual e um dos donos da indústria gonzo. Ele, na verdade, inventou a pornografia com vômito. Esse homem usa espéculos como instrumento de tortura em vaginas e ânus de mulheres.

Quando comecei minhas pesquisas 15 anos atrás e entrevistei pornógrafos da indústria, nenhum deles queria chegar perto do Max Hardcore; ninguém queria ser dono dessa empresa; ele era considerado muito extremo. Da última vez que estive em Las Vegas, ele tinha o maior estande no centro da convenção pornô e tinha a maior fila de autógrafos lá.  Ele agora é o centro da indústria pornográfica. 

Não existe um jeito melhor de contar a história da pornografia do que contar a história da marginalização de Max Hardcore até sua chegada ao topo. [...] Você não pode deixar que o cara que vai se masturbar assistindo aquele sexo violento veja qualquer sinal de humanidade naquelas mulheres; porque na maioria das vezes os homens que chegam até esses filmes pornôs não são sádicos. Mas a questão é como fazer homens que não são sádicos sexuais se masturbarem vendo sexo sádico? Isso é um problema na indústria, porque você concorda que a maioria dos meninos de 13 anos não é sádico sexual ainda, não é mesmo?

Isso é muito importante. Porque quando você faz tráfico de mulheres, você tem que mostrar que aquelas mulheres “são diferentes das que você conhece”. Você faz essa divisão porque, quando chega a hora de assistir tortura sexual, ninguém vai olhar nos olhos daquela mulher e ver um ser humano, mas sim uma p.... Homens com frequência discutem comigo dizendo que as mulheres que fazem esse tipo de filme amam o que estão fazendo, e eu sempre rebato: “Você já pesquisou? Conversou com as atrizes?” E eles respondem: “Dá para ver que elas gostam.” E o mais interessante é que, na verdade, você vê o contrário. Elas são péssimas atrizes. Podemos ver que elas estão chorando, que elas estão chateadas e que, no final, elas estão completamente acabadas. [...]

Agora imagine um menino de 11 anos, hormônios aflorando, ele digita “pornô” no Google imaginando que vai ver alguns seios e é isso que ele encontra. Como eles o mantêm no site? Os pornógrafos pensaram nisso muito bem: “Sabe o que a gente diz sobre romance e preliminares? A gente diz [...]! Esse site não é para meias-bombas tentando impressionar vadias metidas. A gente pega lindas p... e faz o que todo homem realmente gostaria de fazer. A gente faz elas engasgarem até a maquiagem borrar e... [impublicável]” (texto de um site pornográfico).

Imagine um menino de 12 anos, ele não sabe que vai assistir isso e se assusta, mas os pornógrafos planejaram isso muito bem, eles dizem: “Faça o que todo homem realmente gostaria de fazer.” Essa é a isca. Eles estão dizendo para o menino: “Você é um homem de verdade? Porque se você for, é isso que você realmente gostaria de fazer.” E o que você acha que um menino de 12 anos vai fazer? Vai fugir assustado porque não é um “homem de verdade”? Claro que não! Ele está construindo sua masculinidade. E como você a constrói? Você vaga pela cultura se perguntando o que significa ser um homem. É assim que eles conquistam os meninos. Assim como as mulheres vagam pela cultura se perguntando “O que significa ser uma mulher?”, e encontram Beyoncé, Lady Gaga e Rihanna, eles vagam pela cultura e encontram isso. É como uma aranha espalhando a teia.

Os meninos acabam excitados e traumatizados. Essas crianças são vítimas da indústria pornográfica porque fazer isso com um menino de 12 anos é vitimá-lo e traumatizá-lo, pois não é isso que ele procura. Essa é a idade em que ele desenvolve suas preferências sexuais, e quanto mais ele desenvolve suas preferências sexuais pela pornografia, mais a pornografia define quem ele é. Quanto mais a pornografia define quem ele é, mais provavelmente ele vai se tornar um cliente. Porque quantas mulheres ele vai encontrar que vão fazer esse tipo de coisa? Ele vai querer fazer essas coisas. E é assim que a pornografia cria demanda. [...] Ninguém precisa ser PhD para entender o que isso significa: nojo e ódio às mulheres numa idade em que os meninos estão desenvolvendo suas preferências sexuais. [...]

Você tem noção de que um pequeno grupo de homens em Los Angeles está construindo a preferência sexual dos meninos pré-adolescentes no mundo todo? Isso é o que eu chamo de colonização cultural na sua pior forma. Porque quando você coloniza sexualmente uma cultura, você a coloniza por completo.

Um relatório médico da indústria pornográfica mostrou que atualmente as atrizes estão contraindo gonorreia na garganta e nos olhos e clamídia no ânus. Você acha justo que a cada ano um grupo de mulheres de cada geração tenha que lidar com isso? Você acha que elas são diferentes de mim e de você?

Antigamente, o que os meninos adolescentes faziam quando os hormônios começavam a agir? Roubavam a Playboy do pai. Você tinha acesso limitado à pornografia. Por pior que a Playboy fosse, ela não chegava aos pés do que a pornografia é hoje. Nunca antes uma geração de meninos foi criada com acesso 24 horas à pornografia pesada. Esse tipo de experimento social nunca foi feito antes. E esses meninos vão crescer e se tornar políticos, advogados, médicos, ou seja, os líderes da próxima geração, pois quando eles crescerem ainda viveremos numa sociedade patriarcal. E eu pergunto: Que tipo de pais, advogados, juízes vão se tornar esses homens criados pela pornografia gonzo? Esse tipo de pergunta não está sendo feita. E como socióloga e estudiosa de pornografia, posso garantir que haverá implicações que você ainda nem pode entender. Porque assim que você perde a habilidade de se conectar emocionalmente com alguém, que tipo de ser humano você se torna?


E qual é o futuro da pornografia? Bom, a pornografia está num beco sem saída. Sabe por quê? O problema que eles enfrentam hoje é o seguinte: eles já fizeram tudo o que podiam com o corpo de uma mulher, até quase matá-la. Não sobrou mais nada. E porque a pornografia é tão rentável, acessível e anônima, e porque tantos homens a usam todos os dias, se instaurou uma total dessensibilização. O que faz o sexo ser interessante? A pessoa com a qual você está fazendo sexo e a conexão que tem com ela. Mas a pornografia destruiu toda essa conexão e deu lugar ao nojo e ao puro ódio às mulheres.

Veja o que disse um diretor de filmes gonzo: “O problema com o mercado de sexo extremo, o sexo gonzo, é que tantos fãs querem ver coisas cada vez mais extremas que estamos sempre procurando novos caminhos para fazer coisas diferentes.” Bom, e sabe para onde a indústria pornográfica está indo?

Em 2003, a lei que proibia pornografia com mulheres de 18 anos que aparentavam ter menos de 18 anos foi derrubada. Do dia para a noite, houve uma explosão do que eu chamo de “pornografia infantil legalizada”. Estão na sessão “teen” dos sites pornográficos. O tipo de filme que temos hoje em dia é: Primeira vez com o papai, P... do papai, Tudo bem, ela é minha enteada 7. Você sabe quantas enteadas são estupradas? Isso não é coincidência. Pedófilos costumam ir atrás de mulheres com filhos. E aonde tudo isso está nos levando?

Um tempo atrás entrevistei estupradores de crianças que não eram pedófilos. Explico: nenhum deles se encaixava na descrição do que é um pedófilo – homens que em média aos 14 anos começam a molestar crianças e quando chegam à fase adulta deixam um rastro de centenas de vítimas. Esses homens que entrevistei estavam presos por posse de pornografia infantil e por estuprar uma criança depois dos 50 anos, e quando eu perguntei se eles eram pedófilos, eles ficaram ofendidos e disseram: “Claro que não! A gente prefere sexo com mulheres adultas!” Então eu perguntei: “Mas se vocês não são pedófilos, por que estupraram crianças?” E a resposta que eles me deram foi: “Ficamos entediados com a pornografia adulta e queríamos tentar algo novo.” E sabe quanto tempo eles levaram para estuprar uma criança depois de ver pornografia infantil? Um ano.

É isto o que a sociedade fez: abriu as portas para uma nova geração de homens que nunca antes havia considerado uma criança como vítima, e agora considera.

Você conhece o termo aliciamento, não? Aliciamento é quando um molestador foca numa vítima criança, mas ele não bate ou violenta, ele diz o quanto ela é especial, o quanto ela é legal, ele compra presentes, ele diz o quanto ela é gostosa até que chega um ponto em que a criança acredita que a coisa mais importante na vida dela é o quanto ela é atraente.

Nesse dia das entrevistas, eu aprendi uma lição valiosa sobre a nossa cultura, e ela não me foi dada por um acadêmico, mas por um estuprador que estava preso por violentar a enteada de 10 anos. Vou chamá-lo de Dick. Quando entrevistei Dick e perguntei como ele estuprou a criança, ele disse: “A cultura fez boa parte do aliciamento por mim.” Foi aí que a minha ficha caiu. Vivemos numa sociedade aliciadora. Não existe mais um único aliciador aliciando uma única criança de cada vez; o que existe é uma cultura inteira aliciando nossas meninas a se comportarem inapropriadamente de maneira sexual e aliciando nossos meninos a serem fãs de pornografia gonzo. Nossa cultura se tornou um aliciamento coletivo.

(Gail Dines, FestivalMarginal)

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