quinta-feira, 5 de abril de 2012

Seguro de vida: falta de confiança em Deus?


Desde que surgiu o Movimento Adven­tista, seus membros têm discutido se devem ou não fazer qualquer tipo de seguro, especialmente seguro de vida.
Embora a Igreja não tenha tomado posi­ção oficial sobre o assunto, muitos membros entendem que o seguro de vida é incompatí­vel com o tipo de confiança que um cristão sincero deve ter em Deus. Pastores têm pre­gado sobre o tema, incentivando os membros a cancelar suas apólices.
Inicialmente as discussões entre os líde­res adventistas eram sobre seguros de todos os tipos, mas com o passar do tempo os ris­cos envolvidos os levaram a aceitar a ideia de segurar as propriedades contra incêndio, tempestade e furto. A mudança de atitude ocorreu por volta de 1860, quando a Igreja começou a incorporar propriedades em seu nome. Naquele tempo o risco de incêndio era especialmente ameaçador, pois as casas, em geral, eram de madeira, o aquecimento era fornecido por carvão ou fogões à lenha, e a luz geralmente provinha de lamparinas.
EIlen G. White concordava com os se­guros de proteção à propriedade, o que é ilustrado por suas cartas. Em 1880 ela es­creveu ao seu filho, W. C. White: "Gosta­ria que você pusesse no seguro a casa de Healdsburg. Converse com Lucinda sobre o assunto. Estou preocupada com isso." ­Carta 17, 1880.
Quatro anos mais tarde ela escreveu: "O irmão Palmer diz que lhe escreveu com respeito ao seguro. Se a casa não está se­gurada, isto deve ser feito em seguida."Carta 40, 1884.

 


Esse conselho estava em harmonia com suas repetidas instruções de que todos os passos deviam ser dados para salvaguardar a propriedade. Quando ela ainda era viva, seu filho W. C. White respondeu a uma pergun­ta sobre seguro contra incêndio, escrevendo:
"Não encontramos nos escritos de mamãe qualquer condenação à prática de segurar nossa propriedade contra incêndio. Mamãe sempre considerou isto muito diferente de seguro de vida. Ela mantém seus próprios prédios devidamente segurados, e tem in­centivado algumas de nossas instituições a fazerem o mesmo." -Carta, W. C. White, 5 de agosto de 1912.
Ellen White e os seguros de vida
Os seguros de vida, porém, eram vistos de modo diferente pela Sra. White. Em seu testemunho nº 12, intitulado "Seguros de Vida", publicado em 1867, e reproduzido na íntegra em Testemunhos Seletos, vol. 1, págs. 176 e 177, ela diz entre outras coisas:
"Foi-me mostrado que os adventistas ob­servadores do sábado não se devem meter em seguros de vida. Isto é um comércio com o mundo, que o Senhor não aprova ...
“O seguro de vida é um método mundano que leva nossos irmãos a nele se meterem a fim de se apartarem da simplicidade e pure­za do evangelho ... Deus tomou providên­cias em favor de Seu povo. Tem por eles es­pecial cuidado, e eles não devem desconfiar de Sua providência, metendo-se em um pla­no juntamente com o mundo ...
“Os que se ligam a esse método mundano, depositam meios que pertencem a Deus, que Ele lhes confiou para que empreguem em Sua causa, para promover o avançamento de Sua obra. Poucos, porém, obterão quaisquer lucros do seguro de vida, e sem a bênção de Deus mesmo esses se demonstrarão prejuízo em vez de benefício. Aqueles a quem Deus fez mordomos Seus, não têm direito de colo­car nas fileiras do inimigo os recursos que Ele lhes confiou para usar em Sua causa ...
"Satanás leva seus agentes a introduzirem várias invenções e patentes, e outros em­preendimentos, para que os adventistas do sétimo dia que estão ansiosos de enriquecer, caiam em tentação ... Por meio desses dife­rentes veículos, está Satanás drenando habil­mente a bolsa do povo de Deus, e assim pesa sobre eles o desagrado do Senhor."
Uma leitura cuidadosa nos permitirá des­cobrir cinco razões pelas quais Ellen White se opôs aos seguros de vida:
1. Os crentes se envolvem excessivamen­te com o mundo.
2. É incentivado um espírito mundano e secular, contrário à simplicidade e finalidade única do serviço cristão.
3. Diminui nossa percepção da providên­cia divina.
4. Representa uma negação da verdadeira mordomia perante Deus, por desviar os Seus fundos para negócios de risco com objetivo de lucro.
5. Manifesta ganância comparável à espe­culação em direitos a patentes e invenções.
Uma análise do raciocínio de Ellen White deixa claro que ela considerava a participa­ção nos seguros de vida como uma ameaça à experiência espiritual, e viciosa, por se tratar de um negócio de risco. Após esse artigo, em 1867, a Sra. White fez apenas referên­cias ocasionais aos seguros de vida, em seus escritos, não apresentando qualquer evolu­ção filosófica do tema.
As declarações de Ellen White nos levam à conclusão de que os seguros de vida, da maneira como eram feitos em sua época, eram contrários aos princípios cristãos, tanto do ponto de vista espiritual como do de mor­domia sobre os bens do Senhor.
Os seguros no século dezenove
O período que se seguiu à Guerra Civil americana foi apropriadamente des­crito como uma era de desenfreado oportu­nismo e especulação, praticamente não con­trolados pelo governo. Esquemas para enri­quecer rapidamente estavam na ordem do dia, mas muitas vezes terminavam em fra­casso financeiro.
A nascente indústria de seguros se achava imbuída do espírito de risco da época. Com­panhias de seguro de pouca solidez financei­ra faliam de repente, deixando suas apólices totalmente sem valor. Os clientes eram mui­tas vezes tratados com injustiça e até mesmo fraudulentamente. Apólices eram feitas em nome de pessoas estranhas, e o público era incentivado a investir na esperança de lucrar com a morte do segurado.
Os abusos desse sistema levaram o públi­co a exigir que as Companhias de Seguro fossem regulamentadas pelo governo. A par­tir de 1906, leis estaduais e federais foram emitidas com o objetivo de limitar as frau­des e exigir que as seguradoras adotassem práticas corretas.
Em nossos dias, as indústrias de seguros são regulamentadas por leis e órgãos do go­verno, e diferem em muitos aspectos das se­guradoras do final do século passado. Por­tanto, os conselhos de Ellen G. White contra os seguros de vida precisam ser entendidos à luz das práticas correntes em seus dias.
Provisão para tempos de necessidade
Tanto as Escrituras como os escritos de Ellen White consideram como ordem divina a responsabilidade cristã de proteger os seus queridos. Baseado na autoridade do quinto mandamento, “Honra a teu pai e tua mãe”, o apóstolo Paulo salienta a importân­cia desse princípio nos seguintes termos:
 “Mas, se alguma viúva tem filhos, ou ne­tos, aprendam, primeiro a exercer piedade para com a sua própria casa, e a recompen­sar a seus progenitores, pois isto é aceitável diante de Deus. Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o des­crente” (I Tim. 5:4 e 8).
Repetidas vezes Ellen White encareceu a importância de fazer provisão para necessi­dades futuras. Segue um exemplo:
“Os recursos que tendes conseguido não têm sido sábia e economicamente gastos, de maneira a deixar margem para, no caso de virdes a ficar doente, não ficar vossa família privada dos meios que trazeis para o seu sustento. Vossa família deve ter algo de que lançar mão no caso de serdes levado a situa­ção de apertura.” - O Lar Adventista, págs. 395 e 396.
Ela apoiava a compra de mercadorias de qualidade e o cuidado das mesmas. Falou em favor da aquisição de casa própria, quando possível, e aprovou a acumulação de reservas razoáveis para usar em caso de necessidade. (Ver Testimonies, vol. 7, págs. 291 e 292).
Conclusão
Nas condições atuais, as perguntas que se impõem são as seguintes: Os segu­ros de vida oferecem meios, de enfrentar emergências, que são compatíveis com os princípios cristãos? Podem eles ajudar a en­frentar crises surgidas por incapacitação ou morte do assalariado, sem enfraquecer a fé ou a confiança na providência divina? Po­dem eles ajudar alguém a assumir a respon­sabilidade, dada por Deus, de proteger os inocentes sobreviventes de tragédias neste mundo perigoso?
Em 1957 foi publicado um resumo de 50 páginas, apresentando as conclusões a que chegou uma comissão de estudos, da Associação Geral e dos Depositários de EI­len White, sobre os seguros de vida. Suas propostas, baseadas em judiciosa investi­gação, proveem sólida interpretação dos princípios envolvidos, os quais incluem o seguinte:
1. O Espírito de Profecia ensina, sem hesitação, que o cristão deve preparar-se para os “maus dias”. Deve reconhecer que che­gará o dia em que os rendimentos serão par­cos ou mesmo nulos: E ao contemplarmos o futuro, devemos ter, se possível, um mon­tante razoável de bens ou reservas em di­nheiro para fazermos face a tais necessida­des, para que “não seja preciso depender da caridade alheia”.
2. É conveniente contar com a segurança de uma modesta casa própria e moderados investimentos financeiros, dinheiro no ban­co, investimento na Obra do Senhor ou ou­tro investimento sólido.
3. É conveniente beneficiar-nos da prote­ção oferecida pelo seguro contra incêndio e seguro do automóvel.
4. Os conselhos do Espírito de Profecia sobre seguros de vida, na década de 1860, foram dados numa época em que estes não eram fiscalizados, e muitas vezes atendiam a interesses suspeitos – uma espécie de jogo para enriquecer rapidamente.
5. Na maioria dos planos de seguros de vida, é mantido o princípio de colocar uma parte de lado, para os dias de necessidade e para ajudar a levar as cargas uns dos outros. O círculo se estende para além da família ou da igreja, incluindo um grande número de pessoas, igualando os encargos e minimi­zando as despesas.
6. O seguro de saúde é outro plano para nivelar o que de outro modo seria uma des­pesa muito grande. Também nesse caso um grande número de pessoas ajuda a levar as cargas uns dos outros.
7. O Fundo Mútuo para Funerais, do qual participam muitas pessoas, através de paga­mentos periódicos ou taxas pagas por oca­sião da morte de um membro, é uma manei­ra de repartir as despesas, de tal modo que um leva a carga do outro.
8. A Previdência Social é reconhecida pela Igreja como um plano, através do qual o empregador e o assalariado se unem para sistematicamente fazer uma reserva, a ser utilizada em caso de invalidez, aposentado­ria ou morte.
9. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, embora oficialmente não procure incenti­var ou dissuadir seus membros no tocante aos vários tipos de seguros, tem, através de votos tomados no Concílio Anual da Comissão da Associação Geral, dado a sua aprovação aos planos previdenciários e de benefícios.
RUBEM M. SCHEFFEL, editor jubilado da Casa Publicadora Brasileira

1 comentários:

Eduardo Kuhn disse...

Bem coerente e preciso o texto, já tive seguro, no momento estou sem nenhum, mas pegunto como se enquadra então o sistema da dinastia, é um seguro, mas tem meios de faturamento. tem pessoas em nossa igreja que participam ja fui convidado diversas vezes... porém na duvida não ultrapasso, gostaria de saber melhor qual a posição nossa diante esse assunto para que de forma possa ajudar aqueles que aceitarem, e defender realmente o que é verdade.

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