quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Dízimo, a Casa do Tesouro e a IASD

Quando se trata da devolução do dízimo, a “casa do tesouro” [Mal. 3:10] é a Associação local ou a igreja local? Alguns creem que a casa do tesouro é a igreja local, enquanto a igreja mundial considera a associação/missão como depositária dos dízimos e ofertas. Qual das duas proposições é a bíblica? Infelizmente a Bíblia não oferece uma resposta clara. Ao se rever a aplicação do princípio da casa do tesouro no tempo do antigo Israel, podemos avaliar melhor qual é o tipo de prática que o Israel moderno deve seguir. 

A Casa do Tesouro no Antigo Testamento A mais antiga referência sobre o assunto diz respeito à devolução do dízimo de Abraão ao sumo sacerdote Melquisedeque. (Gên. 14:20) Neste caso, Abraão considerou que Melquisedeque era a casa do tesouro. Antes da travessia do Rio Jordão, os israelitas foram instruídos pelo Senhor a devolver todos os dízimos a Ele (Lev. 27:30, 32) e Ele daria aos filhos de Levi “todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação. (Núm. 18:21) Os próprios levitas também foram instruídos a dizimar (v. 28)”. Após a conquista de Canaã, dado o fato de que os levitas não receberam “herança quando a terra foi dividida entre as tribos, nem possuíam “renda própria” (Núm. 18:20), passaram a morar em áreas dispersas, geralmente em 48 cidades especialmente designadas para eles. (Núm. 35:6) Logo após a travessia do Jordão, os israelitas armaram o tabernáculo em Gilgal, e mais tarde em Siquém, Siló, Nobe e Gibeom. Todos os homens israelitas eram convocados a se reunir em um desses lugares para adorar pelo menos três vezes em festas anuais (Êxo. 23: 17) e eram instruídos a trazer ofertas consigo pois ninguém deveria se apresentar de mãos vazias perante o Senhor (v. 15). Os sacrifícios poderiam ser oferecidos somente nos locais designados por Deus. (Deut. 12:11) Os que consideram a igreja local como casa do tesouro podem argumentar citando Deuteronômio 14:22-29. Tal posição é vista pelos eruditos judeus como o “segundo dízimo” [1]. Ellen White concorda com tal interpretação considerando que assim como havia muitos sábados cerimoniais mas apenas um único Sábado santificado semanalmente, assim também havia outros dízimos junto com o dízimo sagrado usado apenas para o sustento dos levitas. [2] 

Período da monarquia Nos primeiros anos do seu reinado, Davi trouxe a arca sagrada para Jerusalém (II Sam. 6) e, posteriormente, seu filho Salomão construiu um belo templo que se tornou um local permanente para a recepção de dízimos e ofertas (I Reis 6). Com o passar do tempo, a prática de devolver dízimos e ofertas às 48 cidades designadas aos levitas foi interrompida. Parece que todos os israelitas passaram a devolver os dízimos e as ofertas diretamente à tesouraria do templo. Observe a prática em voga durante o reinado de Ezequias: “Além disso ordenou ao povo, moradores de Jerusalém, que contribuísse com sua parte devida aos sacerdotes e levitas para que pudessem dedicar-se à lei do Senhor. Logo que se divulgou essa ordem, os filhos de Israel trouxeram em abundância as primícias do cereal, do vinho, do azeite, do mel, e de todo produto do campo; também os dízimos de tudo trouxeram em abundância.  Os filhos de Israel e Judá que habitavam nas cidades de Judá, também trouxeram dízimos das vacas e das ovelhas, e dízimos das cousas que foram consagradas ao Senhor seu Deus; e fizeram montões e montões. No terceiro mês começaram a fazer os primeiros montões; e no sétimo mês acabaram. Vindo pois Ezequias e os príncipes, e vendo aqueles montões, bendisseram ao Senhor e ao seu povo Israel. Perguntou Ezequias aos sacerdotes e aos levitas acerta daqueles montões. Então o sumo sacerdote Azarias, da casa de Zadoque, lhe respondeu: desde que se começou a trazer à casa do Senhor estas ofertas, temos comido e nos temos fartado delas, e ainda há sobra em abundância; porque o Senhor abençoou ao seu povo, e esta grande quantidade é o que sobra. Então ordenou Ezequias que se preparassem depósitos na casa do Senhor. Uma vez preparados, recolheram neles fielmente as ofertas, os dízimos e as cousas consagradas”. (II Crô. 31:4-12) Esta passagem sugere que depois da divisão das 12 tribos, as 48 cidades especialmente designadas para servir de habitação aos levitas não mais funcionavam como cidades durante o período dos juízes. Naquele momento, sob condições diferentes, era mais oportuno devolver os dízimos e ofertas diretamente ao Templo em Jerusalém. 

Cativeiro pós-babilônico Após o cativeiro babilônico, sob a liderança reformatória de Neemias, o sistema de remessa e devolução dos dízimos foi restaurado conforme a prática no passado. “O sacerdote, filho de Arão, estaria com os levitas quando estes recebessem os dízimos e os levitas trariam os dízimos dos dízimos à casa do nosso Deus, às câmaras da casa do tesouro. Porque àquelas câmaras os filhos de Israel e os filhos de Levi devem trazer ofertas do cereal, do vinho e do azeite”. (Ne. 10:38,39) [3] “Ainda no mesmo dia se nomearam homens para as câmaras dos tesouros, das ofertas, das primícias e dos dízimos para ajuntarem nelas, das cidades, as porções designadas pela lei para os sacerdotes e para os levitas; pois Judá estava alegre, porque os sacerdotes e os levitas ministravam ali”. (Ne. 12:44) Mais tarde, entre as duas gestões de Neemias como governador, as pessoas caíram em apostasia e pararam de devolver o dízimo; por isso, Neemias protestou contra os líderes e o povo por negligenciarem a casa de Deus (Ne. 13:11). Eles se arrependeram e reinstauraram o sistema do dízimo (verso 12). Foi durante esse tempo que Deus, através do profeta Malaquias, convocou Seu povo para uma reforma tanto no estilo de vida individual como corporativo. “Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas”. (Mal. 3:8) Naquele momento, sob condições diferentes, era mais oportuno devolver os dízimos e ofertas diretamente ao Templo em Jerusalém. Então, segue-se a ordem de Deus e a promessa: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós bênção sem medida”.(v.10). Observe as palavras “casa do tesouro” e “minha casa”, ambas referem-se ao mesmo lugar.Onde era então a casa do tesouro? Obviamente no templo de Jerusalém. A estocada das palavras de Malaquias e a compreensão do povo a respeito delas era clara. Ambas compreendiam a palavra “casa do tesouro” como uma referência ao santuário, o Templo em Jerusalém. Pode haver alguma validade no argumento de que a remessa local dos dízimos aos levitas ocorria em pequenas vilas e cidades em determinadas épocas no passado; contudo, no tempo de Neemias e Malaquias, compreendia-se inequivocamente que o texto de Malaquias referia-se ao Templo em Jerusalém como a casa do tesouro. 

A prática do Novo Testamento Apenas 11 passagens no Novo Testamento referem-se ao dízimo e nenhuma delas contém alguma informação sobre a casa do tesouro. Assim, não temos dados suficientes para afirmar como os crentes desse período praticavam o princípio da “casa do tesouro”. O Novo Testamento nos afirma, de fato, que Paulo coletava fundos de algumas congregações para auxiliar os crentes pobres em Jerusalém que passavam fome (II Cor. 8:19). Afora alguns poucos exemplos sobre ofertas, não há informações sobre a coleta do dízimo e desse modo, o que nos resta é confiar no Antigo Testamento para compreender o significado de “casa do tesouro” e sua utilização. 

Uso denominacional [IASD] Dois anos antes da organização da Associação Geral, um pequeno grupo de líderes e crentes reuniram-se em Battle Creek, de 26 a 29 de abril de 1861, para estruturar e organizar a editora. Antes desse encontro, muitos membros sentiam que era tempo de considerar também a organização oficial da denominação. (Havia muitos que se opunham à organização formal da igreja) Portanto, durante a reunião, votou-se que nove pastores presentes escrevessem um artigo para a  Review and Herald sobre aquele tema. O resultado foi um documento cuidadosamente preparado, intitulado “Organização”, assinado por J. H. Waggoner, José Bates, Tiago White, J. B. Frisbie, J.N. Loughborough, M.E. Cornell, E.W. Shortridge, Moses Hull e John Byington. Desde então, os princípios básicos que têm guiado a denominação encontram-se nesse documento. Os autores propuseram (1) uma organização mais completa das igrejas locais; (2) organização adequada de associações por Estado ou regiões”, que asseguraria as credenciais do ministério; e (3) e a união de “associações gerais” “plenamente credenciadas” como representantes da vontade das igrejas. O artigo foi publicado na  Review and Herald, na edição de 11 de junho de 1861. A igreja local deveria nomear anciãos e diáconos. Em nível estadual, seria atribuição da Associação autorizar a licença de ministros para a pregação, pagar-lhes o salário, manter em seu poder os documentos das propriedades da igreja e  receber o dízimo. A associação geral devia ser uma assembléia de delegados de todas as associações estaduais e refletir a vontade e o pensamento de todas as igrejas locais. Em outubro de 1861 a primeira Associação da futura Igreja Adventista do Sétimo Dia foi organizada – a Associação de Michigan. Uma dos primeiros itens foi fixar e prover um salário para os pastores daquela associação. Credenciais que deveriam ser renovadas anualmente também foram expedidas e os recursos financeiros vieram dos membros das igrejas que compunham a nova associação. Tal resolução, na essência, teve o efeito prático de fazer da associação a casa do tesouro. Dois anos mais tarde, em 1863, A Associação Geral foi organizada formalmente e na mesma reunião um modelo de constituição para as associações estaduais foi preparado e recomendado aos delegados presentes. O Artigo III da constituição dizia que os recursos deveriam ser obtidos através de um plano de Benevolência Sistemática e outras doações e relatados regularmente ao tesoureiro da associação. Esse artigo nos informa que nossos pioneiros pretendiam que os membros das igrejas constituintes da associação local deveriam ser a fonte de recursos; portanto, o dízimo e as ofertas formariam a base financeira da associação e seriam utilizados para apoiar a obra ministerial/evangélica. A obra da Associação Geral foi primeiro financiada por remessas irregulares de verbas das associações. Em 1878, porém, a comissão administrativa da Associação Geral recomendou que as associações pagassem um dízimo de sua renda a ela. Mais tarde, quando as associações-uniões foram organizadas em 1901, as associações pagavam um dízimo de sua renda às uniões que, por sua vez, pagavam um dízimo à Associação Geral. [4] Deve-se observar que as igrejas locais não empregavam nem pagavam os ministros; tampouco autorizava suas licenças ou credenciais. As associações assumiam tais responsabilidades. Hoje, as igrejas locais não são entidades legais, mas as associações sim. As igrejas unem-se para formar uma associação/missão que serve às suas necessidades como uma corporação legalmente reconhecida para empregar e supervisionar o ministério, pagar os salários dos obreiros e coletar dízimos e ofertas das igrejas para apoiar empreendimentos evangelísticos. As igrejas locais, não tendo status legal, delegam à associação local a responsabilidade de empregar pastores individualmente. No presente, igrejas locais recém-organizadas são aceitas na “irmandade de igrejas” na associação local com base nas mesmas condições. Isso é feito regularmente nas chamadas reuniões distritais Como Ellen White compreendia o assunto 

Como Ellen White entendia a expressão “casa do tesouro?” Muito pouco pode ser encontrado em seus escritos sobre o princípio da "casa do tesouro" simplesmente porque isso não era um problema para ela. No entanto, note o que escreveu: “Se nossas igrejas assumirem sua posição ao lado da palavra do Senhor e forem fiéis na devolução do dízimo ao Seu tesouro, mais trabalhadores serão incentivados a assumir a obra ministerial.” [5] O contexto sugere claramente que por “tesouro” ela entende a associação local. Menção deve ser feita ao tempo em que o Dr. Kellogg devolvia à associação local o dízimo dos obreiros do sanatório e estava considerando interromper essa prática. A Sra. White ficou tremendamente aborrecida por isso. “Para ele, separar o dízimo do tesouro”, ela escreveu, “seria uma necessidade que me muito me apavora”. [6]

Vantagens de ter a Associação como Casa do Tesouro Sugerir que a igreja local se torne a casa do tesouro é possível, mas a que preço? Como sabemos, isso romperia seriamente a estrutura organizacional e o governo da denominação. Destruiria, na pior das hipóteses, um dos sistemas financeiros mais notáveis da igreja praticado por mais de um século e meio. O programa missionário mundial, como o conhecemos, pararia de funcionar. Somos gratos porque o Senhor guiou os líderes adventistas pioneiros no estabelecimento de um sistema financeiro para a igreja. Ao adotar o conceito de associação local como casa do tesouro, um pequeno grupo de crentes estabeleceu o alicerce necessário para apoiar o desenvolvimento miraculoso de nossa igreja em um dos movimentos missionários mundiais mais notáveis na atualidade. Baseia-se no princípio bíblico de devolver um dízimo fiel e designar a associação local como a casa do tesouro. Ellen White jamais discordou desse procedimento, uma prática que a seguiu paralelamente cerca de 50 anos do seu ministério. A Srª White defendia o princípio de designar a associação local como a casa do tesouro. Se isso estivesse moralmente errado, certamente ela teria muito a dizer para consertar o erro, mas este não é o caso. 

Conclusão Nossa discussão leva-nos às seguintes conclusões: 
1. A Bíblia ensina que o dízimo deve ser devolvido à casa do tesouro. 
2. A prática de remessa do dízimo sempre envolvia ou a casa do tesouro do tabernáculo ou a casa do tesouro do Templo em Jerusalém. 
3. No Antigo Testamento a localização da casa do tesouro nem sempre era permanente, porque o tabernáculo movia-se de um lugar para o outro até se estabelecer permanentemente em Jerusalém. 
4. No lugar da casa do tesouro do Templo em Jerusalém, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em assembléia geral, decidiu a localização da casa do tesouro. 
5. Decisões tomadas por nossos pioneiros designam a associação local como a casa do tesouro de acordo com a vontade de Deus. Nenhuma mensagem inspirada veio de Ellen White para contrariar tal decisão. O que de fato ela escreveu foi para que os membros obedecessem à voz da igreja porque Cristo delegou à Sua igreja o direito de decisão. [7]
6. Não há proibição na Escritura para designar a associação ou a igreja local como a casa do tesouro, e a 
partir da organização formal da Igreja Adventista, a associação local foi designada como a casa do tesouro. 

Referências: 
1. Veja “Tithe in Rabbinical Literature”, Jewish Encyclopedia.
2. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 530. Deuteronômio 14:28 indica que havia um “terceiro dízimo”. 3. Esses versos dão a impressão de que o único dízimo trazido a Jerusalém era o dízimo levítico e que o restante era depositado em vilas locais. Entretanto, Neemias 12:44 não parece tão claro como gostaríamos, pois o significado não é exato. “As porções designadas para os sacerdotes e para os levitas” foram trazidas ao Templo. Essas porções incluíam o dízimo, conforme o verso 47 sugere: “Todo o Israel, nos dia de Zorobabel, e nos dias de Neemias, dava aos cantores e aos porteiros as porções de cada dia; e consagrava as cousas destinadas aos levitas, e os levitas as destinadas aos filhos de Arão”.Todos esses dízimos eram armazenados no templo. Talvez Neemias 10:38 esteja simplesmente dizendo que os levitas trouxeram seu próprio dízimo dos dízimos ao templo, e as pessoas traziam o seu aos depósitos locais nas vilas. A outra passagem indica que todos os dízimos eram levados para serem armazenados em Jerusalém. 
4. A informação dos seis parágrafos precedentes foi extraída de “Organization, Development of, in the Seventh-day Adventist Church” e “Tithe”, Seventh-day Adventist Encyclopedia (Hagerstown, Md.: Review and Herald Pub. Assn., 1996), vol. 11, pp. 258-270, 778-780. 
5. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1948), vol. 9, p. 249. 
6. Ellen G. White, Manuscript Releases, vol. 7, p. 366. 
7. Veja “The Unity of the Church”, Bible Echo, setembro de 1888.

Fonte: Centro White. Revisão ortográfica e edição por Hendrickson Rogers

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